AGENDA CULTURAL

20.4.23

O jeito de os povos originais viverem

 


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP 

Estou cutucando o meu cérebro no Dia do Índio para escrever alguma coisa sobre os povos originais do Brasil. "Povos originais" é o termo em moda, mas ando sem inspiração. 

O problema é que cronista, um tudólogo por excelência, precisa escrever, independente de inspiração, necessita mesmo é transpirar, suar o cérebro e produzir um bom texto para o leitor. Mais ou menos como o palhaço, precisa fazer o público rir, embora esteja triste. 

Quantas vezes comemorei o Dia do Índio na escola como professor, procurava passar aos alunos uma visão antropológica. 

Meu livro de cabeceira sobre o índio é "Apenas Curumim", de Werner Zotz,  escrito em 1979 e já está na 27a. edição, Editora Letras Brasileiras. Considerado livro infanto-juvenil, mas que todos adultos e idosos deveriam lê-lo. 

Eu vi duas fotos de equinos no jornal Folha da Região de Araçatuba, edição do último domingo, 16/04/2023. A primeira foto mostrava uma eguinha abandonada, doente, estirada ao chão; a segunda, um equino bem arreado, ao lado de seu cavaleiro, pronto para participar da 32ª edição do Congresso Brasileiro do Quarto de Milha em Araçatuba. 

Postei as fotos e perguntei aos leitores: "Tais fotos fizeram você pensar em  quê?". Michele Souza respondeu que os dois animais estavam em situação desconfortável. Cláudia Gonçalves já puxou a sua resposta para o outro lado, escrevendo que os dois equinos representavam as diferenças sociais entre os seres humanos. 

Uma outra notícia chocante, envolvendo animais, veio de Fernandópolis-SP, quando um idoso de 68 anos foi atacado em sua própria casa por dois cães pitbulls, morrendo logo após na Santa Casa da cidade. A verdade sobre a fidelidade canina é posta à prova com tal fato. O velho residia na casa. 

- E o índio, Consa? - pergunta o leitor. 

Se você é daqueles que classificam os indígenas como povo atrasado, reflita sobre os seu julgamento. Não aconteceria tais fatos com os animais na aldeia. Índios em sua condição original não exploram os animais domésticos, aliás, possuíam uma relação amorosa com eles, todos soltos na floresta.

Há muitos significados na relação dos indígenas com os animais. Os xerimbabos não são animais de estimação conforme nossa concepção, vivendo presos em nossas casas ou propriedades. Crianças e índios os tinham, mas viviam soltos na floresta e de vez em quando se encontravam, trocavam afagos. Isso na condição original, sem aculturação.

Não estou dizendo que devemos retornar ao estado primitivo, mas podemos melhorar nosso relacionamento com a vida, mirando no jeito de os povos originais viverem. Precisamos respeitar os índios, tratá-los como irmãos, considerando-os portadores do elo perdido.       

Um comentário:

Ventura Picasso disse...

Ao redor da reserva Yanomami existem 17 igrejas orando pela salvação de suas almas, mas nada fazem pela salvação de seus corpos...