Orifício na pele pela entrada e saída de uma agulha, vista no microscópio eletrônico. Em baixo, agulha com bisel em anzol na ponta, depois da injeção de anestésico.
A pele túrgida é um colchão de nuvens e
sonhos em que nos deixamos abraçar para se chegar à plenitude de amor. A
turgidez vem do estado de hidratação da pele que pode estar diminuída pela
ingestão reduzida ou perda excessiva de líquidos. Mas, não se tem líquido livre
entre as células e fibras.
Do viço do nascimento até as conquistas da
vida, o gel da matriz extracelular parece menos brilhante e exuberante. Há uma
busca desenfreada para se retomar o aspecto encantador com injeção de produtos,
via agulhas duras e inelásticas que viajam pela matriz extracelular, sem
qualquer desvio ou ginga do balé e da gafieira por entre as fibras, células e
outras estruturas. Elas perfuram em linha reta e cruel.
TESTE DA GAZE
As agulhas têm biséis tão finos, que se
dobram ao encostar em qualquer coisa rígida como a própria embalagem,
instrumentos, tampa de frasco, cartilagem, osso e dente. Na anestesia local, a
ponta da agulha pode tocar na superfície óssea vizinha e fazer um anzol. A
ponta ultradelicada da agulha biselada se dobra para um ou para o outro lado,
formando um anzol só visto no microscópio.
Se deslizarmos a agulha em uma gaze, se
houver anzol, os fios serão fisgados enrugando-a. Imaginem esta agulha com
anzol saindo, depois de introduzida nos tecidos moles para injetar algum produto
ou um anestésico local. O “teste da gaze” é muito importante, e mais ainda, se
a agulha for novamente injetada nos tecidos do paciente.
Ao sair com este anzol, a agulha vai
pescando filetes neurais e vasos pequenos, quando não fibras colágenas e
musculares de seu caminho. Desta forma, pode acontecer áreas hemorrágicas com
hematoma, dores por miosite, parestesias, anestesias e paralisias localizadas
depois de procedimentos infiltrativos e anestésicos. Isto explica por que
difere o período pós-operatório em cada paciente.
OUTROS CUIDADOS
Estas consequências podem não estar
relacionadas com as agulhas em anzol, mas com o tipo de produto injetado quanto
a sua qualidade, esterilização, toxidade e tempo de validade, sem contar com a
quantidade aplicada. O ideal para o profissional, depois dos procedimentos, é
fotografar ou oferecer as embalagens dos produtos para os pacientes ficarem
mais seguros e tranquilos. Na embalagem vai constar a origem do produto,
registro Anvisa e validade.
A forma como foi injetado um produto, mesmo
que um anestésico, deve ser lentamente e de forma suave. O produto vai se
deslizando e “misturando” se com a matriz extracelular, interagindo-se por
entre as fibras e células. Quando rapidamente injetado, o material injetado
pode ir rasgando ou abrindo bruscamente espaços entre as fibras, vasos, nervos
e células, o que pode gerar uma quantidade maior de proteínas livres na região,
induzindo uma inflamação significante com edema e dor.
TRES CONSIDERAÇÕES FINAIS
1 - Em pesquisas depois de anestesias
locais, algumas agulhas ficavam com o formato de anzol ao microscópio
eletrônico, pelo toque em superfícies duras. Ao retornar, o anzol pode fisgar
fibras, vasos e nervos, promovendo sintomatologia e efeitos indesejáveis.
2 - Cada detalhe em uma técnica indica
requinte, que se obtém com muito treinamento em cursos de formação profissional
e humanística. Sejamos criteriosos e serenos nas escolhas.
3. Os tecidos não têm microrganismos, que
ficam nas superfícies cutâneas e mucosas. Injetar produtos é comunicar o meio
interno, sagrado e estéril, com o meio contaminado que vivemos. Estes
procedimentos devem ser feitos em plena cadeia asséptica incluindo
equipamentos, instrumentos e pessoas.
Professor Titular da USP
FOB de Bauru
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