AGENDA CULTURAL

15.5.23

Um pouco de tanta luz

 

Capa do livro

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP.
 
Luminares e iluminados, ou seja, sábios e sabidos, mas quem é iluminado também ilumina. Cada um é senhor do seu pedaço. Apenas os broncos não são nenhum dos dois, mas moram no coração do Senhor. 

Bem provável que o Dr. Geraldo da Costa e Silva demorou mais tempo em achar o título do livro do que escrevê-lo. Ou então bolou o título e partiu à caça de seus personagens. 

Percorreu o mundo para selecionar 17: Orestes Barbosa, Klectus Caldas, Dorival Caymmi, Antônio Maria, Tim Maia, Raul Torres, João Pacífico, Teddy Vieira, Guerra Junqueiro, Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Gibran Khalil Gibran, Balzac, Machado de Assis, Ganhi, Charles Chaplin, Thomas Alva Edison. Segundo o prólogo do livro feito pelo autor, sobraram muitos.

Confesso que prestei atenção no perfil de cada um deles, pois o autor, em sua juventude andava mais otimista; na velhice, o pessimismo anda em sua companhia. Mas me surpreendi com seus luminares e iluminados: são humanistas.

Não estive na solenidade de lançamento, em 18 de março de 2023, pois estava nas lides literárias em Jumirim-SP, mas a ausência do Dr. Lourival Amilton Lautenschläger, o Loriko,  certamente foi lamentada, pois se esqueceu da condição de prefaciador do livro e morreu antes. Os dois eram vinculados à Academia Araçatubense de Letras. Assim que cheguei da viagem, passei na clínica e adquiri meu exemplar.

Segundo Loriko, um prefácio dispensável, pois nada poderia acrescentar ao livro, pois o Pratinha (apelido do Dr. Geraldo) é um escritor perfeito.

"Dezessete luminares e iluminados" é o 15.o livro de Geraldo da Costa e Silva, sendo eles: Banca de retalhos, Banca de retalhos: 52 aos 52 anos, Trilogia dos retalhos: última banca, O último rochedo de Sísifo, A túnica de Nesso, De volta às latomias, O mel e as orelhas de Midas, Fainda de faiscador, Do fundo da canastra, Do mundo da bola, Memórias de convívios e outras mais, Dos cenários menores da comédia humana, Abrindo conchas e ostras da sabença supérflua, Bola que rolou e rola.  

"Dezessete Luminares e Iluminados", Geraldo da Costa e Silva, natural de Prata-MG, médico há mais de 50 anos em Araçatuba, 330 páginas, R$40,00. Candidato ao Troféu Odette Costa - literatura. Livro de crônicas. Aguardemos o 16.o título. 

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À GUISA DE PREFÁCIO

        O Dr. Geraldo da Costa e Silva nos presenteia mais uma preciosidade neste final de ano conturbado, de ressaca de pandemia, de guerra absurda lá fora, e de eleições em que o ético é chamar o outro de mentiroso: com Dezessete Luminares Iluminados, seu décimo quinto livro, não livrinho. É ele o Tio Pratinha pra seus milhares de clientezinhos de três gerações e suas mamães, titias e vovós; o Vô Pratinha para os netos; simplesmente Pratinha para os milhares de amigos de quem se fez o amigo necessário; conheceram-no como Pratinha os olhos verdes serenos como um lago de Cacilda Dias, que o magnetizaram, e ele lhes é Pratinha até hoje; é Pratinha pra mim desde que nos encontramos, há mais de sessenta anos na mesma escola de medicina, e, com tanta afinidade e parecença, nos apercebemos de que a vida nos marcara um encontro.

Na década dos 1990, na primavera dos seus anos cinquenta, floresceu em Pratinha sua fantástica verve literária: deu a público Banca de Retalhos (1992). Magnífica colcha multicolorida: Crônicas enternecedoras, picantes, hilárias, políticas, poéticas, deliciosas à leitura. Exigimos mais. Publicou nova Banca: Crônica da Semana – 52 – Aos 52 anos.

Vez por outra me dá vontade de reler uma ou outra crônica do Pratinha. Crônicas do Pratinha são como amores do passado, deixam saudade. Delas e de quando foram escritas. E quase sempre vou à crônica-poesia Compadre Lorico, que está entre as semanas do seu Aos 52, que escreveu pra me dar seu fraternal abraço quando eu cheguei aos meus primaveris 50 anos, ele ainda não. Sacramentou então nossa amizade, hoje me acaricia a alma. E releio o precioso prefácio do nosso querido professor de Pediatria na FMRPUSP, Dr. Luís Carlos Raya, da Academia Ribeirãopretana de Letras, Um prefácio sem precisão, em que diz saber que nada podia acrescentar ao livro.

Quando Pratinha me convidou a prefaciar mais esta obra, mesmo antes de ler o texto eu sabia que, como o sábio professor Raya, eu também nada poderia acrescentar. Li e reli todas as catorze obras anteriores, muitas delas digitei. Machado fazia seus próprios prefácios, sintéticos e objetivíssimos, à pena de ganso e à tinta do tinteiro. Pratinha escreve à mão, à pena esférica com sua própria tinta, e seus prólogos nada deixam a acrescentar. O tinteiro de Machado tinha a tinta da melancolia, a pena esférica de Pratinha tem a da saudade.

Quando me falou do seu projeto Dezessete Luminares e Iluminados, ousei sugerir-lhe a inclusão do nosso Machado de Assis, um milagre, que certamente teria sido considerado o maior romancista do século XIX se escrevera em francês, em que escreveu muito, ou em inglês. No que concordamos plenamente. Tomou-o como um atraente desafio. E Pratinha não perde desafios... Escreveu o melhor texto que já li sobre o Bruxo do Cosme Velho. E seu prólogo sabe a Machado.

Pensei então num prefácio me atendo ao autor, não à obra. É fascinante a biografia do personagem que nasceu numa casa modesta literalmente à beira-rio, e ali teve sua primeira infância, foi numa casinha de pau-a-pique, chão de terra-batida, também à beira-rio a sua primeira escola, teve por companheiro de infância o andarilho Rio da Prata, chegou ao Dr. Geraldo da Costa e Silva, eternamente Pratinha pra nós seus milhares de amigos. Que conquistar amigos de quem ser amigo e deles ser o amigo necessário é sua maior virtude, talvez assimilada ao Prata. Mas Pratinha merece todo um livro, aguardemos sua autobiografia, como biógrafo ele nada deve a Ruy Castro, a Fernando Morais.

O Pratinha, em sua mineira modéstia, certamente dirá que lhe enchi muito a bola. Mas eu não acho! E lhe digo, boleiro que é: Cumpádi, a sua bola está cheia de nascença. Rezava-me Seu Bertinho, meu pai: - Filho, o que deve e precisa ser feito, deve ser bem feito. - Cumpádi, você vai além, você faz perfeito.

São, no quinze, dezoito, os dezessete.

Lourival Amílton Lautenschläger - Loriko -dezembro - 2022


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