Dizem que há muitos anos, mas muitos anos, algures em África ouviu-se um “plim”, um som típico das varinhas mágicas das fadas madrinhas, e pronto, estava criado o nosso avô dos avós, o “homo sapiens” que por vezes a sapiência parece lhe fugir para muito longe.
Mas não foi um único “plim” que se ouviu,
foram muitos “plim”, em vários pontos do sul da África. Isso só para pôr a
cabeça dos especialistas destas coisas à deriva. Como foram vários “plim”?
Estava tudo combinado?
Uns dizem que essa invasão de “plim”
aconteceu há quatrocentos mil anos, mais ou menos. Outros dizem que foi há
trinta mil. Há ainda quem diga que foi há cem mil. Isto porque ainda não tinham
inventado os dogmas, porque senão estabelecia-se um prazo e pronto, não havia
mais discussão.
Havia outros “homo”, primos do norte
habituados às neves europeias, criados por outros “plim” bem mais antigos. Eram
os “neandertais”.
Os neandertais eram mais fortes que os
sapiens. Eram corpulentos, tipo “vikings”, e alguns eram louros, ao contrário
dos “cabeças pretas” que, como o nome indica, o cabelo era preto.
Nesse meio tempo, entre os neandertais e
os sapiens, ninguém sabe quem habitava a parte norte da África, de que os
“tuaregues” parecem ser descendentes. Devia ser um povo ou povos muito
inteligentes, porque conseguiram destruir toda uma vegetação luxuriante e
transformar aquela terra num deserto, hoje chamado de Saara. Há vestígios de
que havia alguns rios que atravessavam o deserto e desaguavam no Atlântico.
O rio Nilo seria um desses rios. Há
vestígios de que ele foi mudado de curso para o que hoje existe e fez a riqueza
do Egito. Para uma obra desta natureza não foram os sapiens nem os neandertais.
Foram talvez os mesmos que nos deixaram as pirâmides, construídas muito antes
do que julgamos e julgam os especialistas, completamente ignorantes da
matemática.
Ninguém sabe o que aconteceu, quem invadiu quem. Mas tudo
leva a crer que foram os nossos progenitores que saíram à conquista do mundo.
Os neandertais resistiram enquanto puderam, tentaram conviver uns com os
outros, mas o casamento não deu certo e os neandertais tiveram que desaparecer
durante longos milhares de anos, até que reapareceram nos anos trinta do século
passado e tentaram conquistar o mundo.
Mas como os sapiens são mais frágeis
fisicamente, mas mais inteligentes, voltaram a detonar os neandertais, pois o
Hitler e a camarilha dele achavam que eram de raça pura neandertal. Não houve
“plim” que os salvasse.
Então os cabeças pretas, livres do
empecilho dos neandertais, começaram a conquistar tudo por onde passavam,
graças à invenção de novas armas de pedra, com as quais superavam a sua
fragilidade física.
Terão encontrado outros homos de “plim”
desconhecido. Misturaram-se e começaram a parecer diferentes, a cor da pele
tomou outras tonalidades. A essas tonalidades chamaram raças.
Quando chegaram à Índia encontraram os
brâmanes, que dizem que eram uma raça superior, que eram arianos, vindos não se
sabe de onde. Como os brâmanes eram muito racistas, estabeleceram um sistema de
castas para dividir as raças. Os cabeças pretas ficaram colocados em terceiro
lugar, não tinham direito a nada.
Pronto, está explicado o mistério maior,
de onde viemos. Não se sabe bem qual era a cor da pele dos sapiens quando
apareceram no sul da África por meio de vários “plins”. Tudo leva a crer que
era negra. Só não se sabe como é que os habitantes das neves mudaram para pele
clara e cabelo loiro, quando a pele escura atrai o calor e a luz, e a pele
clara reflete ambos.
Mas não importa, somos todos africanos,
não importa a cor da pele porque no genoma não há diferença. As únicas
diferenças que nos separam são culturais. É tempo de construir pontes e
eliminar as diferenças aberrantes, que não nos enobrecem.
*Manuel Pina - 12/06/2023 - escritor português - membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras
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