AGENDA CULTURAL

14.6.23

Somos todos africanos - Manuel Pina*


Dizem que há muitos anos, mas muitos anos, algures em África ouviu-se um “plim”, um som típico das varinhas mágicas das fadas madrinhas, e pronto, estava criado o nosso avô dos avós, o “homo sapiens” que por vezes a sapiência parece lhe fugir para muito longe.

Mas não foi um único “plim” que se ouviu, foram muitos “plim”, em vários pontos do sul da África. Isso só para pôr a cabeça dos especialistas destas coisas à deriva. Como foram vários “plim”? Estava tudo combinado?

Uns dizem que essa invasão de “plim” aconteceu há quatrocentos mil anos, mais ou menos. Outros dizem que foi há trinta mil. Há ainda quem diga que foi há cem mil. Isto porque ainda não tinham inventado os dogmas, porque senão estabelecia-se um prazo e pronto, não havia mais discussão.

Havia outros “homo”, primos do norte habituados às neves europeias, criados por outros “plim” bem mais antigos. Eram os “neandertais”.

Os neandertais eram mais fortes que os sapiens. Eram corpulentos, tipo “vikings”, e alguns eram louros, ao contrário dos “cabeças pretas” que, como o nome indica, o cabelo era preto.

Nesse meio tempo, entre os neandertais e os sapiens, ninguém sabe quem habitava a parte norte da África, de que os “tuaregues” parecem ser descendentes. Devia ser um povo ou povos muito inteligentes, porque conseguiram destruir toda uma vegetação luxuriante e transformar aquela terra num deserto, hoje chamado de Saara. Há vestígios de que havia alguns rios que atravessavam o deserto e desaguavam no Atlântico.

O rio Nilo seria um desses rios. Há vestígios de que ele foi mudado de curso para o que hoje existe e fez a riqueza do Egito. Para uma obra desta natureza não foram os sapiens nem os neandertais. Foram talvez os mesmos que nos deixaram as pirâmides, construídas muito antes do que julgamos e julgam os especialistas, completamente ignorantes da matemática.

Ninguém sabe o que aconteceu, quem invadiu quem. Mas tudo leva a crer que foram os nossos progenitores que saíram à conquista do mundo. Os neandertais resistiram enquanto puderam, tentaram conviver uns com os outros, mas o casamento não deu certo e os neandertais tiveram que desaparecer durante longos milhares de anos, até que reapareceram nos anos trinta do século passado e tentaram conquistar o mundo.

Mas como os sapiens são mais frágeis fisicamente, mas mais inteligentes, voltaram a detonar os neandertais, pois o Hitler e a camarilha dele achavam que eram de raça pura neandertal. Não houve “plim” que os salvasse.

Então os cabeças pretas, livres do empecilho dos neandertais, começaram a conquistar tudo por onde passavam, graças à invenção de novas armas de pedra, com as quais superavam a sua fragilidade física.

Terão encontrado outros homos de “plim” desconhecido. Misturaram-se e começaram a parecer diferentes, a cor da pele tomou outras tonalidades. A essas tonalidades chamaram raças.

Quando chegaram à Índia encontraram os brâmanes, que dizem que eram uma raça superior, que eram arianos, vindos não se sabe de onde. Como os brâmanes eram muito racistas, estabeleceram um sistema de castas para dividir as raças. Os cabeças pretas ficaram colocados em terceiro lugar, não tinham direito a nada.

Pronto, está explicado o mistério maior, de onde viemos. Não se sabe bem qual era a cor da pele dos sapiens quando apareceram no sul da África por meio de vários “plins”. Tudo leva a crer que era negra. Só não se sabe como é que os habitantes das neves mudaram para pele clara e cabelo loiro, quando a pele escura atrai o calor e a luz, e a pele clara reflete ambos.

Mas não importa, somos todos africanos, não importa a cor da pele porque no genoma não há diferença. As únicas diferenças que nos separam são culturais. É tempo de construir pontes e eliminar as diferenças aberrantes, que não nos enobrecem.

*Manuel Pina - 12/06/2023 - escritor português - membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras

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