AGENDA CULTURAL

3.10.23

Zé Mané, Zé Ruela, Oreia Seca, Zé Ninguém

Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo as leis são diferentesEu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo as leis são diferentes 
(Bruno Gouveia - Biquíni Cavadão)

Nos meus textos, o Zé, seja qual for, é escrito com letra maiúscula. Esse tipo de gente é tão desprezado que pelo menos o croniqueiro pé-de-chinelo tem que lhe dar importância. A vida é que importa!

Quando alguém quer desqualificar um sujeito, dizer que não vale o que o gato enterra, passa-lhe um apelido bem ralé. Em turma de peão, gente que trabalha no pesado, chamar um colega disso ou daquilo é a coisa mais comum. Bullying. 

Quando a vida apronta alguma armadilha, a pessoa pensa em mudar-se de cidade, começar tudo de novo. Eu mesmo pensei nisso nesses meus dias difíceis. Ir começar tudo de novo numa outra cidade, mas fazer isso aos 75 anos? Em Araçatuba, sou um Zé Mané conhecido, noutra cidade, seria mais um Oreia Seca no anonimato em terras estranhas. 

O sentimento de pertença, ser de um determinado grupo ou lugar, faz parte da autoestima. Eu falo de boca cheia que sou de Araçatuba, nascido e criado, capiau legítimo. Todos sabem que sou doido, conhecem meus defeitos e me aceitam assim.

Alguns chamam esse sentimento patriótico de "terrinha" ou "santa terrinha", como chamam Portugal os portugueses em diáspora pelo mundo.

A invisibilidade social é um sentimento de rejeição doído. Numa universidade brasileira, essa experiência foi realizada. Apenas são cumprimentados no câmpus mestrados e doutorados. Um professor muito querido se atreveu a se fantasiar de gari, trabalhar entre eles, o doutor sumiu,  nem olhavam para ele no tempo de fantasia.  

Ao contrário de Zé Mané é seu doutor. Não suja a roupa para trabalhar, sempre na estica. Não precisa ter título não, apenas carro bom, bem vestido e boa aparência (branco, por exemplo). É um esperto na vida. As aparências ainda enganam. O próprio Zé Ninguém cai fácil. 

Entre nós, sujar a roupa para trabalhar é um sujeito desvalorizado. Isso começou na escravidão.

Jesus Cristo encontrou dificuldades na sua pregação no bojo da sociedade judaica. O seu despojamento material, sua pobreza, depunha contra suas palavras. Esse não é o filho do José, o carpinteiro, ou seja, um Zé Mané?

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2 comentários:

RIVALDO R. RIBEIRO disse...

Gostei da sua crônica, embora não tenha cacife para achar qualquer coisa. O assunto me disse algo, porque eu sou dono de um fusca 76 e não me importava como isso. Aqui é cidade pequena e tenho a impressão que a sociedade não me coloca como um Zé Mané por causa do meu velho companheiro, o fusquinha marrom. O problema que não posso fazer nada escondido que todos já sabem que passei por ali.
Meu filho se casou eu fui visitar o apartamentinho dele, mas imagine, bem em frente reside uma colega de trabalho abelhuda. E no outro dia me disse "Rivaldo o que você estava fazendo naquele prédio em frente minha casa." Ela ficou desconfiada sabe-se o porquê. Se é que você me entende. É que ela não sabia que meu filho morava ali, num dos apartamentos. MAS MEU FUSCA ME DENUNCIOU mesmo não tendo culpa de nada. Enfim o meu problema com meu fusca é esse. A cidade toda mapeia por onde ando. Contudo, entretanto, mas um dia desses minha filha que também já casada, funcionária do Estado me disse "pai troca de carro, esse já está muito feinho". Foi quando fui prestar atenção nesse detalhe e agora estou tentando trair meu velho companheiro por um desses carros "frescos" que andam por ai. Mas já disse para meu fusquinha que não vou vende-lo, pelo contrário vou internar para remendar todos os machucados da sua vida em minha companhia. Mas por enquanto não encontrei um desses carros "frescos" que o substitua. Porque estou escrevendo isso? Sei não. Acho que surtei com o calor. Ah o tal Zé Mané, no meu caso acho que não me desqualificam pelo meu fusca e minhas vestimentas. Tenho crédito na farmácia, no Mercadinho do Bairro. minha esposa compra fiado nas lojas. OBS. caso você encontre alguma palavra truncada e mal escrita, as vistas estão falhando. Como te encontrei? Sempre tive seu blog nos links do meu blog e hoje estava dando um jeito no meu ALDEIA MUNDUS e resolvi melhor situar meus amigos blogueiros. Uma boa noite, vixe minha esposa está brava porque ainda não me lavei ou tomei banho para jantar....Ela disse " Outra vez enrolado nesse computador" pois é...

Hélio Consolaro disse...

Rivaldo, gostei de seu comentário. Também já tive um "poisé", fui um Zé Mané. kkkkkk