Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
O cemitério não era Recanto da Paz, lá do Jardim Roseli, era o cemitério da Saudade, perto do estádio. Assim, fui reconstruindo o túmulo da família, que só neste ano ganhou mais dois habitantes: Gervásio, meu irmão; Helena, minha mulher. A obra começou desde o acréscimo de uma nova gaveta (não se enterra mais, engaveta-se) até recompor o túmulo num rápido período, mês de outubro de 2023, pois Dia de Finados estava próximo. Gaveta e granito, o construtor era Maurício Leandro da Paz.
Achei o sobrenome "da Paz" interessante, senti até inveja do cara, feio mesmo é ter o sobrenome "Guerra", mas essas escolhas são do destino, mas depois de adulto pode se mudar nome ou sobrenome. Só estou registrando o fato, cada um deve ter a liberdade de cuidar de suas coisas, principalmente do nome.
O Maurício disse que conhecia um rapazinho que fazia bem as placas. Fiz uma pesquisa de preços, o tal rapazinho ganhou a licitação. Olha o nome do rapazinho: "Guilherme Leandro da Paz". Perguntei-lhe:
- Ué! Seu parente?
-Meu filho!
O serviço acabou, chegou um outro rapazinho mais novo, rodeou, rodeou. Propôs a cuidar do túmulo, recebendo mensalmente. Pá de cá, pá de lá, eis o nome do garoto: Felipe Leandro da Paz!
Exclamei:
- Que máfia!
O menino respondeu:
- Não é máfia, tudo feito legal e honestamente. Meu pai foi nos encaminhando na profissão.
Acrescentei:
- Tânatos! Mais algum irmão?
- Uma Irmã, mas essa fugiu à regra.
Pensei que ajudava a costurar a mortalha na funerária, mas não ganhava dinheiro com a morte.
- Mais algum irmão?
Quando eu era um sujeito besta, achava um absurdo ganhar dinheiro com a morte. Hoje mudei, a morte alimenta o ato de viver. Quem tem medo da morte, está verde, imaturo.
Com a morte, a família Leandro da Paz ganha a vida.
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