AGENDA CULTURAL

10.1.24

Para quem não publicou nada

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Publicar significa dar conhecimento ao povo. Sair de seu interior e ir para o exterior. Vou me restringir a textos. Você não se contenta em ficar conversando consigo mesmo, acha que suas ideias são muito boas, quer dividi-las. O escritor e o jornalista são astros, querem brilhar para todos.

Já houve tempo em que o caminho era colaborar em jornais de papel. Hoje colabora-se em sites, porque os noticiosos de papel desapareceram. Eu escrevi diariamente na Folha da Região por 15 anos, eu era como a galinha, todos os dias botava um ovo.  E recebia por isso. Foi uma pós-graduação.

Hoje, o caminho mais barato é a internet, mas não me refiro apenas a tecer comentários embaixo de textos alheios. Você quer mesmo escrever um texto mais organizado, com gênero definido: crônica, artigo, conto, novela, romance. Ser o protagonista.

Então, precisa ter, pelo menos um celular e explorar todas as suas potencialidades. Celular não é só telefone ou Whatsapp.  Se tiver à disposição um computador (notebook, por exemplo) melhor, fica mais à vontade. A vantagem do celular é que você pode usá-lo em qualquer lugar, digitar textos e postar matérias enquanto estiver esperando alguém.       

O bom produtor de texto não espera escrever apenas em situação ideal, chegar em casa, ligar um som maneiro, ar condicionado, tomar um cerveja para ajudar na inspiração. Se a vida é agitada, seu texto deve estar em ritmo de rap. Estou exagerando, mas hoje não se compõem mais valsas vienenses porque não se ouve o silêncio. 

Ainda há pessoas que manuscrevem seu texto, depois o digitam. Não é mais o meu caso. Produzo o texto no teclado. Outro dia surpreendi um amigo, dizendo que havia escrito aquele texto esperando atendimento médico. É bom dizer que tenho aplicativos de dicionário, gramática, tudo no celular. Apesar de ser um professor de Português, aposentado, ainda tenho dúvidas. Erra mais quem tiver certezas. 

Mas há gente fora do compasso, está atrasado na caminhada. Eu leio livros de papel (passei a vida fazendo isso), mas prefiro atualmente o livro digital. Não preciso sentir o cheiro de tinta e nem do sebo. Nem por isso, fico zoando com os antigos, cada um caminha conforme as suas pernas. 

Apesar do avanço do livro digital, o livro de papel ainda é uma mídia considerável, ficou mais nobre ter livro de papel publicado. Se alguém me perguntar se sou escritor. E eu responder que sim. Essa pessoa logo quer saber quantos livros publicados. Se eu lhe disser que escrevo em blog, então não sou considerado como tal. O interlocutor faz cara de menosprezo.

Escrevo uma crônica no blog e tenho mil leitores, por exemplo, sem despesas. Para eu publicar um livro de papel com mil volumes de tiragem, gasto uma fortuna.  Para manter o status de escritor, membro da Academia Araçatubense de Letras, publico um livro de papel com a tiragem de 200 exemplares, apenas para os amigos. Fazer pose.

Caro leitor, se tiver vontade de escrever. Se não o fizer parece que a vida fica incompleta, escreva, nem que seja para as gavetas, para seu texto ser um arquivo no computador. Publicar é o passo seguinte. Vai teimando, seja um fuçador, não abandone seu projeto, procure o Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras. Comece participando de antologias, até chegar ao livro solo.    

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