Dentaduras variam quanto a confecção ou manutenção e nenhuma delas tem qualquer relação como causa do câncer bucal |
As células se renovam a todo instante, reparando os danos provocados na interação com o ambiente. Batemos, raspamos, sentamo-nos, pressionamos e exigimos fisicamente dos tecidos como na canela, pés e mãos, mas também na boca, nariz, olhos etc.
Os traumatismos não alteram genes, DNA e o
metabolismo da proliferação celular. Quando se precisa de um tecido mais rude
ou forte para uma função aumentada, ocorrem as respostas adaptativas como a
hiperplasia, hipertrofia e metaplasia:
1.Hiperplasia é o aumento do número de
células. Quando se usa muito as palmas e as plantas dos pés, aumenta-se a
quantidade de células que produzem mais queratina e ficam mais resistentes.
2.Quando a célula não consegue mais
proliferar, ela aumenta muito seu tamanho para compensar e suprir a necessidade
do momento, como os músculos nos exercícios.
3.O traumatismo pode induzir a mudança da
forma e função do tecido. Isto chama metaplasia, uma metamorfose na mesma
linhagem tecidual. Se morder muito o lábio, pode aparecer uma mancha branca
pelo excesso de queratina para suportar a ação mecânica aumentada.
O traumatismo não gera câncer, ao contrário
do que se dizia (opinião) há mais de 60 anos, quando nem se sabia ao certo,
como era o núcleo, DNA e os genes. Hoje, isto só tem valor histórico, e nem se
fala mais nos centros desenvolvidos e menos ainda, nas publicações da OMS.
SEM CÂNCER
Bem antigamente chegou-se a dizer que os
traumatismos das dentaduras provocavam câncer. Que próteses quebradas ou
velhas também. Mas, na verdade, cientificamente, não é nada disto. Quando
aparecia o câncer na boca, o paciente era fumante ou etilista, e quase sempre a
lesão aparecia nas áreas em que a prótese não a protegia destes carcinógenos.
Debaixo da dentadura pode-se ter irritações
inflamatórias por traumatismo devido a falta de adaptação de próteses
desgastadas pelo uso prolongado, gerando hiperplasias reacionais. Depois de 2
anos, o ideal é refazer, pois desgasta o material e a boca se modifica com os
anos.
Ainda debaixo da prótese, podemos ter
micoses como a candidose crônica induzida por um fungo que aproveita a região
com pouca luz, pouco oxigênio e restos alimentares para proliferarem: é tudo
que precisam! O certo é higienizar e deixar a dentadura algumas horas por dia
na água, deixando a mucosa “respirando”. A boca precisa descansar, já imaginou
usar sapato 24h por dia. Inflama o pé, e a boca também!
SEM RELAÇÃO
Não há nenhum trabalho, em qualquer época
ou tipo, que se evidenciou qualquer relação entre dentaduras, quebradas ou não,
com o câncer bucal. É importante ressaltar que opinião não é ciência e nem a
experiência pessoal. O achismo não tem lugar na ciência. Para ser ciência, tem
que ser um trabalho publicado em revista científica conceituada, com
metodologia e número de pacientes, controlados e sem opinião.
As causas do câncer bucal são tabaco
(inclusive eletrônico), álcool (incluindo os de enxaguantes e todos os tipos de
bebidas), HPV, raios solares, substâncias químicas usadas para clarear dentes
sem proteger o seu contato com a mucosa bucal, produtos químicos de alimentos
como herbicidas, inseticidas, conservantes, hormônios e outros produtos
incorporados nos legumes, cereais, carnes etc.
A falta de higiene bucal, de manutenção das
próteses com ou sem implantes e as restaurações quebradas, não são causas e nem
facilitadoras para o aparecimento do câncer bucal. Vamos ser lógicos: a pessoa
que não cuida dos dentes e da boca, é claro que não se importa com os vícios,
com a escolha adequada de alimentos e muito menos ainda, com a proteção da
mucosa bucal.
REFLEXÃO FINAL
Não dá para conscientizar a higiene da
boca, cuidar dos dentes ou trocar a dentadura, com base no medo de ter câncer,
pois a ciência não oferece nenhum fundamento para esta afirmação. Cada dia que
passa, a média de idade dos pacientes com câncer bucal diminui, atingindo
jovens com mais de 35 anos, bom estado dos dentes e da boca como um todo.
Lembrete: o medo afugenta as pessoas e não conscientiza ninguém; quem conscientiza é o conhecimento pleno sobre o assunto, o que nos aproxima da verdade sem mistérios ou ocultismos!
Professor Titular da USP
FOB de Bauru
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