Virchow, o cientista genial, e o incrível músico Beethoven! |
A Anvisa recomendou o recolhimento de detergentes Ypê contaminados por microrganismos com baixo risco para as pessoas. Os números dos lotes divulgados e o acolhimento das restrições pelo fabricante, facilitam a amenização e resolução do problema. Fico a pensar, quantos problemas a Anvisa não consegue detectar?
SABE O QUE CONSOMES?
O criador da ciência da Patologia foi Rudolph Virchow
(1821-1902), também o pai da Medicina Social. Foi um genial cientista, além de
político excepcional que se opôs a Otto von Bismark (1815-1898) por 30 anos.
Bismark era autoritário, inescrupuloso e defendia o interesse dos reis,
príncipes, empresários, burgueses e demais exploradores dos mais pobres
desprovidos de proteção social na Prússia, o país que antecedeu a Alemanha.
Virchow era tão competente que, quando todas as tentativas
de resolver problemas de saúde, produção animal e convulsão social se
esgotavam, por parte do governo de Bismark, logo convocavam Virchow. Ele ia até
o local e por lá ficava até encontrar a razão e solução, que estava associada a
condições precárias de vida. Era arsênico na água, chumbo no vinho, falta de
mínima condição sanitária, exploração por escravidão ou doenças como o tifo. As
aulas de Virchow eram disputadas por estudantes do mundo inteiro.
Nos EUA, por décadas, os fabricantes de gasolina negavam os
efeitos maléficos do chumbo. Milhões morreram por isto e depois de décadas se
reconheceu o fato, mas os mortos não ressuscitaram! No Brasil, quantos sofreram
intoxicação com chumbo associado a fabricação e descarte de baterias de
automóveis? Até admitirem, levam se anos, com muitas mortes. Em Bangladesh
milhões de adultos e crianças morrem, há anos e diariamente, por doenças pelo
arsênico em suas águas “potáveis”.
SABES POR QUE SOFRES?
Na Osteíte Deformante ou Doença Óssea de Paget, os ossos se
mineralizam exageradamente e de forma malfeita ou displásica. A causa é
desconhecida e os ossos do crânio comprimem o cérebro com fortes dores, assim
como os nervos da audição, levando a uma surdez precoce. Como exemplo da
doença, mostra-se Beethoven (1770 – 1827).
Pesquisa nos cabelos de Beethoven, revelou que em uma das
mechas tinha 258 microgramas de chumbo por grama de cabelo, e em outra, 380
microgramas. O nível normal é inferior a 4 microgramas. Isso mostra que
Beethoven foi exposto a altas concentrações de chumbo, e em níveis altos jamais
vistos. Os dados foram publicados este mês no Journal Clinical Chemistry. Os
problemas gastrointestinais de Beethoven são consistentes com envenenamento por
chumbo, assim como a surdez. Na Europa do século 19, o chumbo foi muito usado
em vinhos, alimentos, medicamentos e pomadas.
Uma origem provável dos altos níveis de chumbo de Beethoven
era o vinho, na forma de acetato de chumbo ou "açúcar de chumbo" pelo
sabor doce. Na época, era frequente adicioná-lo em vinhos de baixa qualidade
para melhorar o sabor. O vinho também era fermentado em caldeiras soldadas com
chumbo, que o soltava à medida que o vinho envelhecia, sem contar que rolhas
eram embebidas em sal de chumbo para melhorar a vedação.
Beethoven consumia até mais de uma garrafa de vinho por dia,
acreditando que era bom para sua saúde, o que não bate com o que sabemos hoje.
Beethoven consultou muitos médicos, tentando tratamento para suas doenças e
surdez. Teve época que usava pomadas e tomava 75 medicamentos-dia, muitos dos
quais continham chumbo. O cabelo de Beethoven também continha níveis de
arsênico assustadores, 13 vezes acima do normal, além de níveis de mercúrio
quatro vezes a quantidade normal.
REFLEXÃO FINAL
Quando Beethoven morreu, Virchow tinha apenas 2 anos de idade. Eram compatriotas e quase deu tempo de salvar Beethoven, que sofreu muito com esta intoxicação. Os dados sugerem que ele não tinha Doença Óssea de Paget, até hoje sem causa conhecida. Toda doença tem uma causa, e quando não sabemos, ela continua a existir, até que um dia descubramos e esta é uma das missões da Ciência.
Professor Titular da USP
FOB de Bauru
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