Titânio (Ti) e zircônia (Zr) integram-se ao osso sem rejeição, alergias ou granulomas (Chappuis et al. 2016) |
Nossa estrutura é a base de proteínas e água, o resto pode se dizer que são complementos. As proteínas que temos são registradas na gestação e ninguém mais entra na lista depois do nascimento.
As
proteínas que entram no corpo têm que ser cadastradas, e se não for, haverá uma
reação imunológica até eliminar-se esta proteína. Se as proteínas estranhas
fizerem parte de um transplante, esta reação será chamada de rejeição, que é um
evento imunológico. Toda proteína estranha recebe o apelido de “antígeno”.
Os
carboidratos, lipídeos, metais, íons e outros produtos das estruturas não têm
cadastro, só as proteínas, o que faz parte da espécie. Quando entram no corpo
promovem uma inflamação inespecífica que os contorna com macrófagos ao redor,
mas sem resposta imunológica, ou seja, sem rejeição.
Estes
produtos não proteicos sólidos ou particulados são apelidados de “corpos
estranhos”. Nunca induzem resposta imunológica. A concentração periférica de
macrófagos ao redor é chamada de “granuloma de corpo estranho” e não tem
qualquer natureza imunológica ou associada a rejeição. É um processo indolor e
de poucas consequências biológicas. O ser humano aproveita-se disto para
inserir no nosso corpo produtos de plástico, silicone, metal, resina e até
chips e eletrodos para substituir partes perdidas como os dentes ou exercer
funções como liberar hormônios ou cargas elétricas.
O
genial sueco Per-Ingvar Brånemark,
descobriu por serendipidade, que a liga de titânio não induzia nem rejeição,
porque não tem proteínas na sua constituição, e nem inflamação do tipo
granuloma de corpo estranho. Quando não induz nenhum tipo de reação corporal, o
material pode ser classificado como “corpo inerte”.
Em síntese, temos três
tipos de produtos que podem entrar no corpo: 1. Antígenos (induz resposta
imunológica e inflamatória), 2. Corpos estranhos (induzem apenas resposta
inflamatória tipo granuloma de corpo estranho) e, 3. Corpos inertes, que não
induzem nem resposta imunológica, nem inflamatória.
O corpo inerte pode ser
colocado nos tecidos, como no osso, e até receber cargas, que os tecidos irão
considerá-los normais e parte deles, integrando-se às estruturas. E Branemark
chamou isso de “osseointegração”. Alguns implantes dentários de zircônia, um outro metal, podem ser uma opção ao
titânio, pois descobriu-se que também não induz resposta imunológica e nem
inflamatória. Mas os dois são inertes!
FALTAM FUNDAMENTOS
É
impossível, do ponto de vista molecular, desenvolver respostas imunológicas a
partir de metais. As ligas e produtos de titânio e de zircônia não tem
componente proteico, ambos são inertes aos tecidos e se integram a eles. As
suas estruturas metálicas são estáveis e até os nossos dias não induziram
fenômenos desta natureza, apesar dos milhões de implantes colocados no mundo! A
perda de implantes não está associada a eventos imunológicos, e sim a
planejamentos inadequados ou uso indevido com manutenção deficiente.
É
muito importante refletir também que as respostas alérgicas e autoimunes seguem
os mesmos princípios da imunologia. Para um metal induzir este tipo de
resposta, seria necessária uma explícita decomposição estrutural das ligas,
cujos produtos seriam incorporados em proteínas do corpo. Estas proteínas
modificadas com este material modificado aderido, induziria uma resposta
alérgica e autoimune. É impensável isso acontecer pois teríamos estabelecidos,
depois de mais de três décadas, uma “epidemia” de doenças induzidas ou
associadas aos implantes dentários.
REFLEXÃO
FINAL
Como temos milhares de marcas comerciais de implantes pelo mundo, e os interesses financeiros são enormes, sempre devemos ter cuidado quando ouvimos ou lemos que o implante, de tal produto ou origem, produziu rejeição, alergias ou autoimunidade. Pode ser que estejamos no meio de uma disputa ferrenha de mercado. Estejamos alertas!
Professor Titular da USP
FOB de Bauru
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