Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
A minha geração chegou a ver as queimadas provocadas nos
sítios e fazendas, como forma de limpar pastagens ou preparar a terra para o
tombamento. Fazia-se o aceiro para proteger a cerca e para que o fogo não
espraiasse para outras propriedades. Contratavam-se homens para realizar as
queimadas. Delas surgiam as coivaras. O cavalo ainda era a única força motora
presente na propriedade.
Aqui na região Noroeste Paulista, com a chegada da cana
como matéria prima do álcool, os proprietários punham fogo no canavial para que
o corte da cana ficasse mais fácil para a ação dos trabalhadores rurais (boias
frias), arrebanhados nas cidades, gente sem terra, que terminavam o dia de
serviço tomado de fuligem.
Atualmente, isso se faz com máquinas que eliminaram o
trabalho de gente mais despreparada para o mercado e aumentou o
custo do corte cana.
Esse é um tempo que não pode voltar mais, pois hoje há
uma política de valorização da vida humana e do meio ambiente. Os avanços dos
estudos científicos descobriram que tais práticas primitivas eram prejudiciais
à vida, principalmente dos animais e promoviam o aquecimento global.
O temo caipira, tão romântico e saudosista, também
carrega em sua etimologia uma carga negativa aos olhos da atualidade. Segundo o
filólogo Silveira Bueno, o vocábulo caipira é a contração das palavras
tupis caa (mato) e pir (que corta), formando
o sentido completo de cortador de mato.
O caipira fazia sua casinha à beira chão, furava o poço,
derrubava a mata virgem e fazia o seu roçado. Vivia também da pesca e da caça.
Matavam-se animais e punha fogo para ficar mais fácil o trabalho. Tudo isso era
feito sem nenhum peso de consciência, era o consenso da época. A personagem Jeca Tatu de Monteiro Lobato
encarnou bem este tipo de habitante de nossas roças.
Caipira é o habitante primitivo da Paulistânia, que abrange
interior de São Paulo, parte de Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. Justamente onde estão ocorrendo os incêndios
(novo nome das queimadas).
Um costume ancestral que agora vem às vezes carregado de
má intenção. Ou provocado pelas mudanças climáticas. A população urbana, que é a maior parte atualmente, cresceu muito, se sente acuada com tais práticas.
Nós, habitantes da Terra, precisamos conseguir a nossa sobrevivência,
mas também preservar o planeta, pois não podemos destruir o lugar onde moramos
no espaço sideral.
5 comentários:
Interessante a perspectiva de como algo que há anos atrás não era considerado prejudicial se tornou novamente recorrente. Porém, na atual realidade é pior, pois hoje temos conhecimento de como isso é devastador. E ainda há quem o pratique.
Parabéns, gostei, grande abraço do poeta de Guararapes SP.
Hélio, hoje é nois na fumaça - bonito texto e obrigado
Sim pra época era assim minha primeira casa eu que construir todo o material tirado do mato vivi.muito bem mas hoje a gente tem muito consciência isso não pode mais acontecer
O Caipira nao era um predador...cortava o necessário para sua sobrevivência...não havia, na época, essa volúpia capitalista. O fogo também era usado comodamente
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