AGENDA CULTURAL

26.8.24

Queimada e caipira


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

A minha geração chegou a ver as queimadas provocadas nos sítios e fazendas, como forma de limpar pastagens ou preparar a terra para o tombamento. Fazia-se o aceiro para proteger a cerca e para que o fogo não espraiasse para outras propriedades. Contratavam-se homens para realizar as queimadas. Delas surgiam as coivaras. O cavalo ainda era a única força motora presente na propriedade.

Aqui na região Noroeste Paulista, com a chegada da cana como matéria prima do álcool, os proprietários punham fogo no canavial para que o corte da cana ficasse mais fácil para a ação dos trabalhadores rurais (boias frias), arrebanhados nas cidades, gente sem terra, que terminavam o dia de serviço tomado de fuligem.

Atualmente, isso se faz com máquinas que eliminaram o trabalho de gente mais despreparada para o mercado  e aumentou o custo do corte cana.

Esse é um tempo que não pode voltar mais, pois hoje há uma política de valorização da vida humana e do meio ambiente. Os avanços dos estudos científicos descobriram que tais práticas primitivas eram prejudiciais à vida, principalmente dos animais e promoviam o aquecimento global.

O temo caipira, tão romântico e saudosista, também carrega em sua etimologia uma carga negativa aos olhos da atualidade. Segundo o filólogo Silveira Bueno, o vocábulo caipira é a contração das palavras tupis caa (mato) e pir (que corta), formando o sentido completo de cortador de mato.

O caipira fazia sua casinha à beira chão, furava o poço, derrubava a mata virgem e fazia o seu roçado. Vivia também da pesca e da caça. Matavam-se animais e punha fogo para ficar mais fácil o trabalho. Tudo isso era feito sem nenhum peso de consciência, era o consenso da época. A personagem Jeca Tatu de Monteiro Lobato encarnou bem este tipo de habitante de nossas roças.

Caipira é o habitante primitivo da Paulistânia, que abrange interior de São Paulo, parte de Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.  Justamente onde estão ocorrendo os incêndios (novo nome das queimadas).

Um costume ancestral que agora vem às vezes carregado de má intenção. Ou provocado pelas mudanças climáticas. A população urbana, que é a maior parte atualmente, cresceu muito, se sente acuada com tais práticas.  

Nós, habitantes da Terra, precisamos conseguir a nossa sobrevivência, mas também preservar o planeta, pois não podemos destruir o lugar onde moramos no espaço sideral.    


5 comentários:

Web Literatura disse...

Interessante a perspectiva de como algo que há anos atrás não era considerado prejudicial se tornou novamente recorrente. Porém, na atual realidade é pior, pois hoje temos conhecimento de como isso é devastador. E ainda há quem o pratique.

Anônimo disse...

Parabéns, gostei, grande abraço do poeta de Guararapes SP.

Anônimo disse...

Hélio, hoje é nois na fumaça - bonito texto e obrigado

Anônimo disse...

Sim pra época era assim minha primeira casa eu que construir todo o material tirado do mato vivi.muito bem mas hoje a gente tem muito consciência isso não pode mais acontecer

Anônimo disse...

O Caipira nao era um predador...cortava o necessário para sua sobrevivência...não havia, na época, essa volúpia capitalista. O fogo também era usado comodamente