Autoconhecimento, controle do estresse e o saber sobre os fatores associados às aftas, são fundamentais na sua prevenção e tratamento. |
As aftas comuns têm diâmetro de até 1cm e podem ser chamadas
de aftas menores ou de Mickulicz. Tem se ainda as aftas maiores e incomuns,
quando são chamadas de aftas de Sutton com até 4cm e duração de até 6 meses,
deixando cicatrizes.
As aftas também são chamadas de estomatite aftosa recorrente
e, deve ser por isto, que muitas pessoas inclusive profissionais da saúde,
acreditam que sua causa pode ser um problema estomacal, mas não tem nada a ver.
O termo “estomodeu” vem do latim e é aplicado para as coisas da boca e não do
estômago.
E AS CAUSAS?
A afta começa como um microtraumatismo e a mucosa fica
exposta ao sistema imunológico. Se estiver desregulado pelo estresse, o sistema
imunológico pode achar que as proteínas das células epiteliais se parecem com
as de certas bactérias, atacando-a e necrosando, até perceber, depois de dias,
que se enganou, mas aí já se formou a afta. Se a pessoa não estiver estressada,
a frequência será muito menor. Pode se dizer que na geração das aftas, se tem
um componente de autoimunidade cruzada.
Esta semelhança das células da mucosa com as bactérias é
herdada dos pais. Filhos de pais com aftas, tem mais probabilidade de ter aftas
também. Há um risco de 50% em herdar aftas, se um dos pais as apresentarem, mas
a possibilidade diminui muito quando os pais não são portadores.
As aftas não ocorrem em mucosas queratinizadas como dorso da
língua, palato duro e gengiva inserida. No local que acidentalmente se morde,
ou a escova machuca, ou se fura com agulha na anestesia, ou ainda, quando se
coloca aparelho ortodôntico, o microferimento pode evoluir em dois dias para uma
afta.
As aftas não têm nada a ver com a função estomacal como
acidez e gastrite. As pessoas estressadas que tem muitas aftas, em geral, têm
também desconforto estomacal que se coincidem, dando a impressão de que são
interligadas, pois uma das causas é a mesma: o estresse!
As aftas não são alergias a alimentos como o abacaxi. Faça um teste e tome todos os dias suco de
abacaxi por uma semana e não terás aftas. Ao comer este fruto sólido, ele que
irrita mecanicamente e machuca muito a mucosa.
É por isto que fumante não tem afta, o tabaco espessa a
mucosa deixando grossa e revestida por queratina como a pele. Nos fumantes há
um aumento da espessura e queratinização da mucosa em toda boca como uma
“adaptação” funcional pelo tabaco. Quando se deixa o vício de fumar, pode
apresentar aftas. Alguns voltam a fumar
por causa das aftas que não mais terão, mas o tabaco é cancerígeno, e as aftas
não!
Qualquer doença que deixe a mucosa muito fina e frágil pode
aumentar a quantidade de aftas. Quando se deixa de ingerir vitaminas B e ferro
encontrado nas frutas e vegetais, a pessoa fica com anemia carencial porque a
medula óssea prolifera muito e, sem eles, deixa de produzir hemácias na
quantidade suficiente. Na mucosa bucal, que também prolifera muito, precisa-se
destas vitaminas e íons para proliferar e sem eles, fica delicada,
especialmente a língua que fica lisa avermelhada. Pacientes com muitas aftas em
frequência e quantidade, geralmente apresentam-se com anemia, pela causa ser
comum a ambas e não porque uma provocou a outra!
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
Para não se ter aftas, o segredo é a integridade da mucosa.
Evite microferimentos com alimentos perfurantes como abacaxi, pão ou pipoca.
Prefira sucos e alimentos cremosos. Alimentos ácidos e adstringentes alargam os
microferimentos na mucosa. Evite movimentos bruscos com a escova sobre a
mucosa, use protetores nos braquetes e fios ortodônticos, tenha boa alimentação
com ferro e vitaminas B para a mucosa ficar íntegra, espessa e resistente ao
microtraumatismos.
Quando aftas aparecem, procure o profissional, devemos
identificar as causas associadas em uma anamnese detalhada, pedir um hemograma
completo e receitar medicamentos locais e sistêmicos adequados para cada caso.
Mas o princípio terapêutico é recobrir a ulceração com filmes e películas
protetoras para proteger os nervos expostos do meio bucal e reduzir a dor e
desconforto. Que estes medicamentos locais tenham analgésicos e
antiinflamatórios, também para abreviar o tempo da doença. Os medicamentos
sistêmicos visam corrigir a carência de vitaminas do complexo B e ferro.
Em casos extremos com muito desconforto na intensidade e duração da dor, deve-se avaliar se não é o caso de se administrar a talidomida como último recurso, uma vez que se esgotou todas as outras possibilidades terapêuticas, compartilhando este procedimento com profissionais preparados e treinados para prescrever este medicamento.
Professor Titular da USP
FOB de Bauru
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