AGENDA CULTURAL

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12.3.11

Quarto e renda própria (mulher na literatura)



Hélio Consolaro
A questão do feminino na literatura é bem polêmica. Se existe diferença de ser entre os dois sexos, essa diferença deve se manifestar também no jeito de ver o mundo. Numa conversa, a acadêmica Maria Luzia Villela me revelou que uma leitora de seu conto publicado no livro Experimentânea 6 – Na rede da varanda - lhe dissera que o texto tinha um olhar masculino.
Há escritoras que não aceitam o tratamento de poetisa, porque dizem que a poesia não tem sexo, querem ser chamadas de poetas. Como já li também nalgum livro, não sei se foi em Freud ou Lacan que o sexo não chega a se manifestar no inconsciente. Fiz uma busca nos grifos de minhas leituras, não encontrei nada. Como sou cronista, não defendo teses, fica aí o registro em defesa da confreira, sem compromisso com a ciência.
Que tal questionar mais o tema? A escritora e professora universitária Adriana Lisboa escreveu que se há uma coloração específica, um olhar privilegiado das mulheres, como definir isso saindo da abstração, com exemplos concretos? E estendo o pensamento dela: se os dois gêneros moram em pessoas de ambos os sexos e falam em nós, independente de ser homem ou mulher, como fazer essa distinção em textos? É bem provável que o lado masculino de Maria Luzia Villela aflorou naquele conto, se a leitora tiver alguma razão.
Saindo da virtualidade dos textos para ficar na realidade do mundo feminino, ser mulher e ser escritora já foi mais difícil. Cora Coralina quem o diga, precisou esperar o marido falecer para se mostrar como escritora, não lhe era permitido ter visibilidade como tal. Ela não pôde nem ser ao menos uma escritora senhora, como Maria Luzia.
Clarice Lispector quando surgiu no cenário da literatura brasileira, dominado pelos escritores nordestinos, como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado, suas obras foram tratadas como literatura menor, uma espécie de auto-ajuda feminina. Hoje, ao lado de Machado de Assis, é a escritora brasileira mais estudada em universidades estrangeiras.
Na Academia Brasileira de Letras, só em 1977, a primeira mulher adentrou seus portais, era Raquel de Queirós. E a eleição da primeira presidenta só ocorreu em 1996, com Nélida Piñon.
A escritora mulher precisou conquistar seu espaço aos empurrões. Às vezes, rebelde e chamada de nomes nada agradáveis pela sociedade conservadora. Não estava nela apenas a literatura, com sua voz própria, mas também a feminista. Para fazer isso, precisou ter quarto para si e renda própria, como pregava a escritora inglesa Virgínia Woolf (1882-1941).

2.3.08

Questão de gênero

Hélio Consolaro

No próximo sábado, comemora-se o Dia Internacional da Mulher. O rei Midas já tentou transformá-lo em Dia das Mães, nessa coisa piegas de flor, dar presentes, como fez com Amélia que foi uma mulher de verdade. Apesar de que receber um presentinho não faz mal a ninguém.

O comércio se apropria de 8 de março a cada dia. Mas sábado é dia de mulher (não vou dizer macho, porque não pega bem), mas mulher militante, que não adora ser fotografada ao lado do seu homem, como se ele fosse algum troféu, a dizer: “Este é meu, viu?”.

Se em períodos do passado mais longínquo, a mulher é que gerenciava o mundo, certamente a natureza era grande mãe, o mundo não era dos valentes, mas dos pacíficos. Mulher é mesmo diferente, até as presidiárias de Bilac têm outro comportamento: revoltam-se, mas não quebram nada, nem botam fogo em colchões.

Giulia Sissa escreveu: “Temos de aceitar esta realidade: os grandes homens dizem mal das mulheres, os grandes filósofos e os mais autorizados saberes consagraram as idéias mais falsas e mais desdenhosas a propósito do feminino”. Ainda bem que o Consa não é um Pablo Picasso.

A Grécia, a democracia perfeita em que o mundo ocidental se mira, a mulher era um ser claramente inferior, a sua presença causava certo retraimento nos homens, uma distância em termos de superioridade em relação ao mundo feminino: “Tales evita casar-se porque, para um sábio, é sempre cedo demais ou tarde demais”. Lembre-se, caro leitor, da ilha de Lesbos.

A música de Chico Buarque, “Mulheres de Atenas”, tão mal entendida pelo feminismo de sovaco cabeludo de décadas passadas, já dizia: