AGENDA CULTURAL

30.9.06

Café bom e barato. Existe?

Hélio Consolaro

Na sexta-feira, fui visitar o meu amigo José Lourenço Durão na sua torrefação. E para pegar o “home” lá, precisa chegar cedo. Interrompi minha caminhada, toquei a campainha e fui convidado a entrar.

Pá de cá, pá de lá. Contei-lhe, para o regozijo dele, que minhas cunhadas, irmãs da Japa, quando nos visitam, levam quilos do Café Roceiro, porque “café garantido, nô. Bom, né!”. E quando vou visitá-las em Presidente Venceslau, faço o mesmo, como presente.

Durão me contou, exultante, que a Universidade Federal de Minas Gerais, Ufmg, fez uma pesquisa e propôs o uso de grãos de café na produção de biodiesel. Seriam os grãos classificados pela Organização Internacional do Café de “preto, verdes e ardidos” ou, numa linguagem mais popular: quinta categoria.

Esses grãos são rejeitados na exportação, mas utilizados por várias torrefações, por isso vendem bem baratinho no supermercado, mas ainda é café, ruinzinho, mas café.

Há empresários gananciosos que não se contentam com isso, querem mais lucro, por isso misturam outras tranqueiras, como folhas, milho, cevada, cascas. Eles torram tudo, moem e ensacam. E os supermercados fazem estardalhaço, vendendo café baratinho. Grandes ofertas.

Se esse café defeituoso for encaminhado para a produção de biodiesel, a qualidade do produto, consumido internamente, tem chance de melhorar de qualidade. Daí o entusiasmo do Durão, assim elimina a concorrência desleal, e o brasileiro passará a tomar uma café de melhor qualidade.

Revoltante mesmo, caro leitor, é o que lhe vou contar agora. Há uma quadrilha mineira, seus componentes não podem ser classificados de empresários, que vendem “peletizado de palha melosa” (veja foto) às torrefações para que aumentem seus lucos, por isso é acrescentado ao café na hora da moagem.

Esses falsos grãos, parecidos com formicida em isca ou, para usar uma imagem mais suave, com ração de cachorro, é a palha industrializada do café. É a malandragem em escala industrial.

Não encontrei quase nada sobre o assunto na Internet. Essa “palha melosa” é um segredo das torrefações, guardado a sete-chaves.

E depois, caro leitor, dizem por aí que falta ética na política. Há muita gente sentando em cima do rabo e apontando defeitos alheios.

Fiz uma visita ao amigo e ganhei uma crônica bem-cidadã, sem humor e amenidades, pesadona.

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