Olá Pessoal, algumas pessoas sempre me perguntam:
- Porque o título Alucinações Musicais em teu cd instrumental ? O que tem de conexão com o livro do famoso neurologista Oliver Sacks ?
Então respondo:
- Assista ao video (link abaixo) com o texto (abaixo) recitado pelo Músico e Neurocirurgião Rodrigo mendonça e faça uma analogia por si através das melodias progressivas !!!
Daniel Freitas
Texto "Alucinações Musicais"
Em dezembro de 2002 veio consultar-se comigo um inteligente e renomado músico, homem de sessenta anos, bastante conhecido em sua cidade, o Senhor Hamilton. Sem surdez ou problemas de saúde aparentemente o Senhor Hamilton relatou:
- Doutor, há cerca de oito dias, acordei à noite com barulhos medonhos, terríveis, horrorosos, tapei os ouvidos e não adiantou. Era tão alto que queria sair correndo de casa. Procurei por todos os lados, dentro e fora de casa e foi aí então que percebi que o barulho vinha de dentro da minha cabeça e não de fontes externas. Depois de aproximadamente uma hora, aquele barulho foi se transformando em uma música, uma música sem forma, com timbres que nunca escutei, parecia algum tipo de instrumento novo. Então passados dias que essas coisas começaram a acontecer, comecei a ouvir uma música complexa e intricada, algumas coisas atonais e que em seguida se perdia dando inicio a uma música de ninar. O que está se passando, será que estou enlouquecendo ?
Através deste relato do Senhor Hamilton, iniciamos então uma investigação neurológica com exames de imagens (Ressonância Magnética e EEG) para descartar epilepsia ou lesões cerebrais e não encontramos nenhum problema tanto no aspecto psiquiátricos quanto neurológicos. A partir daqui cheguei à conclusão e disse:
- Senhor Hamilton, o Senhor está tendo Alucinações Musicais que é diferente de imagens mentais. Pessoas que ouvem Alucinações Musicais estão associados a intensa atividade em várias partes do cérebro (lobos temporais, frontais, gânglios basais e o cerebelo). Todas as partes do cérebro ativadas na percepção e produção de música real. Neste sentido, suas alucinações não são imaginárias nem psicóticas, mas reais e fisiológicas, é como se escutasse verdadeiramente um som que vem de fora, alto e intrusivo. Vamos esperar alguns dias para ver se isso desaparece e então o Senhor retorna ao meu consultório.
Após a primeira consulta, passados alguns dias, porém a música continuava a ser intrusiva, surgindo e desaparecendo repentinamente em sua cabeça. Suas alucinações não se pareciam com nada do que vivenciara antes, agora elas tendiam a ser fragmentárias, alguns compassos disso, alguns compassos daquilo, tudo isso era diferente de suas imagens mentais normais, coerentes e em geral obedientes.
Retornando ao meu consultório, o Senhor Hamilton me disse:
- Doutor, ainda continuo com as alucinações, agora tenho notado também algumas músicas conhecidas em minha cabeça, porém em alguns minutos elas se transformam criativamente, por exemplo, em um solo para violino de Bach ou então ela pode virar uma variação para orquestra, podem seguir para padrões atonais e suas melodias cobrir toda gama de emoções. Há algum jeito de acabar com isso ou terei que conviver com elas para sempre?
Então respondi:
- Senhor Hamilton, posso amenizar com algumas drogas, porém também aconselho o Senhor usar isso a teu favor.
- Como assim Doutor ?
- Você é músico não é? Compositor não é? Comece a materializar o que está acontecendo em sua mente, você percebeu que não está enlouquecendo e que essas alucinações não são geradas devidas alguma doença, perda auditiva ou lesões no lobo temporal, elas são fisiológicas, e muitos grandes músicos na história sofreram de alucinações, Tchaikovsky e Shumann, por exemplo. Alguns deles chegaram a ter febres quando a música surgia na cabeça e a febre somente cessava quando a música era escrita ou materializada, como se pedisse para sair da cabeça. Vamos tentar desta forma, quem sabe você encontra um modo de reagir, seja consciente ou inconsciente a essa intrusão involuntária que ocorre em sua mente.
Passado algum tempo após a última consulta o Senhor Hamilton escreveu-me para contar que estava tomando pequenas doses de quetiapina antes de deitar-se, e isso amenizava as alucinações musicais suficientes para que adormecesse. Durante o dia ele não tomava o remédio, pois lhe causa muita sonolência. Ele continuava a praticar o piano mesmo quando tem as alucinações. Ele resumiu, “que a esta altura, eu acho, aprendi a viver com elas e minha produção de composições praticamente dobrou”.
Final - Era interessante notar que embora as suas alucinações fossem orquestrais, elas eram transcritas e adaptadas de modo instantâneo para o piano, ele percebia que suas mãos estavam fisicamente tocando aquelas transcrições que surgiam em sua cabeça e havia dois processos envolvidos nisso, o refluxo de velhas músicas conhecidas pelo Senhor Hamilton na qual são informações do banco de memórias e em seguida re-processamento ativo por seu cérebro criativo e de compositor.
Seu Hamilton publicou suas experiências em um longo artigo on-line, no qual escreveu:
- Considero-me uma espécie de laboratório vivo, um experimento na natureza por um prisma auditivo. Tenho vivido no limite. Mas um limite muito especial, a fronteira entre o cérebro, a mente e o surreal. Daqui o panorama é amplo, em várias direções. Os campos que essas experiências abrangem estendem-se às esferas neurológicas, otológicas, psicanalíticas e espirituais, convergidas para uma única combinação sintomática de todas, vivida e vivenciada não em um divã controlado, mas no palco de uma vida em progresso.
Show de Lançamento do cd "Alucinações Musicais" da banda instrumental FAST FUSION - 07/05/2011 - Teatro Municipal Paulo Alcides Jorge em Araçatuba.
Outros videoclipes
Inspiração - Daniel Freitas
http://www.youtube.com/watch?
Jornada - Daniel Freitas e Christian Freitas
http://www.youtube.com/watch?
Hectoriano - Christian Freitas
http://www.youtube.com/watch?
Tava na hora - Mauro Hector
http://www.youtube.com/watch?
E-mail: danielfreitasdrums@gmail.com
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