AGENDA CULTURAL

4.8.12

POETA POPULAR HÁ MAIS DE 60 ANOS



Poeta não sabe escrever! Cria, decora e guarda as letras na memória.
 02/08/2012 – Com mais de 80 anos e nascido em Arapiraca (AL), Antônio Miguel da Silva, desde os 10 anos escreve e declama poemas. Aliás escrever não é bem a palavra mais correta. Sem formação, Peito Pardo, como é conhecido por seu nome artístico declama suas poesias todas vindas de sua cabeça. Para a surpresa maior, as letras têm mais de 30 anos, e todas, são lembradas por ele na hora das apresentações. 


Tudo Leva
João Mulato e Douradinho
(Peito Pardo / Jesus Belmiro / João Mulato)
O carteiro leva a carta entrega de mão em mão
Tintureiro leva a roupa o padeiro leva o pão
O mineiro leva o ouro vento leva o pó do chão
Baiano quando se ofende já leva a mão no facão.

Quem leva tombo de amor leva dor no coração
Faz suspiro entre cortados feito que levar paixão
Gosto de levar o andor quando vou na procissão
Mas não gosto de levar amigo meu em caixão.

O beija-flor leva pena pra fazer ninho macio
Pescador leva a linhada quando vai pescar no rio
Quem parte leva saudade deixando um lugar vazio
Eu levo gosto na boca dos beijos de quem partiu.

Leva surra da polícia quem é malandro e vadio
E quem trabalha de noite leva agasalho de frio
Quando eu entro no jogo sempre levo mais de mil
Pra onde querem levar o futuro do Brasil.
O mais curioso é que Peito Pardo já escreveu um livro, não publicado, mas ditado por ele a uma pessoa. “Eu não tenho formação, eu às vezes peço pra alguém escrever pra mim. Dito pra pessoa, e ela datilografa lá as letras que vou falando”.

O estilo musical criado por Tião Carreiro, o pagode sertanejo, Peito Pardo diz ser seu preferido. Ele é poeta, não músico, apenas as letras do pagode são compostas por ele. A dupla João Mulato e Douradinho já fez a melodia de suas letras.

A capacidade de guardar as letras só na cabeça é curioso. Declamando, ele fala o nome de 600 cidades sem repetir nenhuma delas.

Peito Pardo é filho de poeta. Em sua terra natal,   ele disse que muitas crianças têm essa sensibilidade, pois o convívio com a miséria é a realidade permanente. “Meu pai era poeta. O sertão é muito pobre e a gente só trabalhava, quando a gente tava em casa eu ficava olhando a paisagem do sertão e sem estudo, ia criando as letras na minha cabeça”, disse o poeta.

Aos 17 anos, o poeta resolveu deixar tudo para trás. Veio de ônibus com uma família de desconhecidos para São Paulo. Chegando na capital, sem conhecer nada e ninguém, a família que ele veio, conheceu o que na época era chamado de “agenciador”, um homem que se encarregava de encaminhar os nordestinos que chegavam à capital para trabalhar. Estes trabalhos geralmente eram nos campos. O poeta  foi de trem para Oswaldo Cruz. Em 1949 veio para Araçatuba e casou-se. Tem oito filhas e vive com suas lembranças bem vivas em sua mente. 

Um comentário:

Heitor Gomes disse...

Verdadeiro artista nato. Aclamado pelo povo. Pena que não é "Cult".