AGENDA CULTURAL

25.4.13

Conselhos de um louco



Hélio Consolaro*

Também não sei como viver, não me peça conselhos, garota. Apenas sei que a vida precisa ser vivida, não importa se bem ou mal, à vista ou no cartão de crédito.

Às vezes, nós nos perguntamos “por que isso aconteceu comigo”, como se fôssemos a mais fina das criaturas.  O problema de cada um está no ego (essa divisão didática do cérebro), se achando muito importante. Se somos seres humanos, “tudo pode acontecer comigo”. O bem e o mal fazem parte da trajetória de cada um.

Nunca gostei, garota, de rezas decoradas, repetidas. Nem o budismo com suas mantras me convenceu da validade disso. A única oração que acho válida é esta: “Faça a sua vontade, Criador”.  Tem aqui a submissão de sua criatura.

Não sou fatalista, pois cada um, às cegas, pode construir parte de seu futuro, mas aos poucos, conforme a idade avança, descubro que não somos tão diferentes de outros seres vivos do planeta. Se eles são programados, irracionais, nós também o somos, com alguns laivos de liberdade conquistada pelo cérebro.

Todos fazem parte da mesma matriz, uma espécie está na outra e os humanos se arvoram em se dizer o topo da evolução. Nas ações individuais e nas coletivas, somos sempre pretensiosos.

Então, garota, você não será a primeira e nem a última a viver tais problemas. É que o cérebro tomou de assalto o nosso corpo, por isso sofre junto com ele. Não há uma conversa entre as partes, o cérebro manda e pronto.

Por isso, garota, precisamos ser tinhoso com ele, como se fosse possível dialogar com o carcereiro, não cair nas ciladas que arma para cada prisioneiro. Transforme o céu cérebro em seu amigo. Se ele vier com a tristeza, ofereça alegria; se oferece o abismo, pule no lago e tome um banho inesquecível. Faça como os poetas, embebede-o.

Há gente que já se especializou em enganador de cérebro: padres, pastores, psicólogos, autores de livros de autoajuda. Até inventaram remédios para que o cérebro deixe de ser tão déspota.

Garota, estou aqui tentando enganar o seu cérebro, um mau leitor. Diga a ele que só comete autoengano ao ler as informações passadas por suas antenas (visão, audição, olfato, paladar, tato). O cérebro é muito pretensioso.

Sei que é difícil para você, garota, separar alma, cérebro, energia, tudo parece uma coisa só. Desconfie de sua maça cinzenta, marota, cheia de armadilhas. Seja maior que ele, por aí começa o caminho da saída de seus problemas. Acabei dando-lhe conselhos. Este meu cérebro...

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP. 

Um comentário:

DêDêCamillo disse...

È, POIS É, HELIÃO, vc disse aí nao se amarrar em rezas repetidas; mas tudo na vida é repetição. E o que escreveu ai´está impregnado do Budismo de NITIREM (1222DC),QUE SOUBE ENCONTRAR NOS ENSINOS ORAIS DE SAKYAMUNI(700AC),estes passados de boca a boca,pelos seus discípulos,e escrito por alguns. Se você pesquisar sobre a filosofia de vida de Nitiren, vai enrriquecer,seu próximos artigos neste assunto . Abçs DêDê