AGENDA CULTURAL

6.6.13

Viver perigosamente

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Hélio Consolaro*

Às vezes, mergulho tanto dentro de mim que é preciso de alguém para me tirar de lá, daquele poço profundo. É visível meu transe hipnótico, meu olhar perdido. Quando alguém percebe isso, bate palma ou me cutuca, levo aquele susto como se estivesse acordando.

Volto molhado de interioridade, cabelos despenteados de rebeldia, descansado, revigorado, mostrando a língua para quem idiotiza a vida.

Nem tudo é sempre azul, a rotina corrói. Sem querer, sou máquina de consumir e, meus sonhos são ouro de tolo, como canta Raul Seixas. Quando tenho aquela vontade de dizer “Eta vida besta, meu Deus”, mergulho nas águas de meu próprio interior, busco o elo perdido.

A vida burguesa, amarrada a cuidados: Não faça isso, é perigoso! Cuidado! Vento frio faz mal! Zelar pelo bom nome. É melhor pingar do que secar... Quando isso me acontece, grito com a voz de Mário de Andrade: “Fora! Fu! Fora o bom burguês!...”

A leitura faz a gente buscar a interioridade, nela busco respostas, por isso leio sempre. A escritora Esther PS Rosado disse numa de suas belas crônicas: “Vida, este trapézio e o seu trapezista: o vôo sem rede de proteção por baixo, o trapezista de ponta-cabeça, suspenso no ar por um pé, por um fio, por um triz. E o coração batendo tão forte, e o mundo sendo tão belo. Viver é mesmo muito perigoso, Guimarães Rosa...”
Este cronista, caro leitor, não quer ser exemplo de vida, apenas divido as minhas façanhas. Gosto de mim, adoro minha cidade, curto meus 64 anos, não me falta nada (e o amor é sempre bem-vindo), e o presente é o melhor momento de minha vida. E para seu desespero, faço deste blog  minha pista de Fórmula 1, nela vivo perigosamente.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP


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