Hélio
Consolaro*
Vivemos numa
sociedade moralista, ou melhor, com uma classe média quatrocentona que quer criar
um país à sua imagem e semelhança. Se alguns arautos dessa classe, que não
forma mais opinião, por isso se desespera, não gosta disso ou daquilo, quer uma
lei proibindo tudo. E há parlamentares que caem nessa pasmaceira e apresenta
projetos, até inexequíveis, apenas por que alguém pediu. Logo, estaremos
proibidos de respirar.
O Tribunal
Superior Eleitoral proibiu recentemente que os candidatos façam propaganda por
telemarkting. Também não poderão usar apelidos que indicam lugares onde o
candidato trabalha ou trabalhou, como “Carlinhos do 3.º DP”, por exemplo.
Para muitos
analfabetos políticos, o tribunal devia ter decidido também outras coisas sobre
candidaturas, como impedir a distribuição de santinhos, porque eles sujam a
cidade, como se as sacolinhas de supermercados fossem mais ecológicas. A classe
média usa sacolinhas adoidado.
Já proibiram
os candidatos de usar o outdoor, mas podiam proibir a propaganda eleitoral na
internet. Tais analfabetos políticos não gostam mesmo de democracia. Que tal
proibir que o candidato use o seu nome e o seu número em propaganda eleitoral?
Vamos reeditar a Lei Falcão!
Político não devia nem fazer discurso, porque é um ser inútil,
só fala bobagem, fazendo promessas vazias. “Calemos os políticos”, essa é a
palavra de ordem dos obtusos.
Os eleitores que sabem votar, portadores de diplomas universitários, merecedores de cargos por causa disso, os doutores da lei, não querem ser importunados. Para eles, tudo se resolve por concurso. E quando não conseguem passar, justificam sua burrice pela frase “não passei porque houve marmelada”, entram com ação na Justiça.
Todo
candidato devia ter sua prisão domiciliar decretada até terminar a eleição, sem
sair de casa para fazer campanha eleitoral. Teríamos uma democracia sem ter
candidaturas.
Candidato que
pedisse voto a alguém seria preso em flagrante como falta de decoro, como
molestação ao cidadão. Na verdade, o candidato devia morrer de vergonha em ser
candidato e permanecer no período eleitoral debaixo da cama.
O melhor
regime para os analfabetos políticos é a meritocracia, a tecnocracia. Só pode
ter cargo quem estudou e passou em concurso, como os ministros do TSE. Sejamos
dirigidos por nerds autoritários que nunca conseguiram se eleger para nada,
porque são chatos, nunca foram representantes de classe
nas escolas onde estudaram.
Os analfabetos
políticos querem a volta da ditadura militar. Dizem que o brasileiro não sabe
votar, querem chamar os japoneses para
nos governar.
Voltemos à
ditadura militar. Deixemos que estrangeiros cuidem de nosso destino! Somos um
povo incapaz!
Incapaz porque não votamos nos candidatos deles!
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal
de Cultura de Araçatuba-SP
Um comentário:
Professor Hélio, bom dia!
Concordo com seu texto, sua crônica, sua crítica. Não dá mais para vivermos dessa forma, mas o que fazer sendo que hoje não se ensina mais a pensar?
Eu me esforço para desenvolver nas crianças que me cercam um pouco de lucidez e autonomia. Estimulo o exercício de pensar e analisar os fatos, os ambientes, as pessoas...
Eu me esforço para evitar crescer nas crianças que eu convivo, essa cultura do consumismo vazio, tento mostrar que pessoas valem mais que as coisas e que devemos sempre nos interessar pela família, cultivar amigos e buscar crescer com cultura geral. Mas professor, como fazer isso em escala municipal? Estadual? Nacional?
O Brasil está doente, muita gente equivocada e perdida, diria até iludida - e com as fanatizadas nem dá para conversar. Por onde começar?
Sabe filme de magia, quando chega ao meio e tá todo mundo hipnotizado e só a turminha "do bem entende tudo o que acontece?" É assim que me sinto... Não que eu esteja certa, longe de mim defender uma verdade única e unilateral, mas tenho medo da falta de autonomia das pessoas, da preguiça de pensar e lutar por algo melhor, do comodismo em ser refém de maus políticos e bandidos em geral. Do pragmatismo e pessimismo sem fim, sem esperança e sem fé. Mas como ter fé né? Não estão mais ensinando isso, é capaz de perguntarem daqui um tempo: Onde compra essa tal fé?
Precisamos ter esperança na mudança, precisamos ter vontade de mudar, precisamos ter conhecimento político para entendermos como tudo funciona e exercermos nossa cidadania e colocarmos em prática a verdadeira democracia - poder do povo. Mas o povo tem as armas e não sabe usá-las...
Continuemos nosso trabalho de formiguinha.
Grande Abraço
Maria Cecília Della Barba Pinto
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