Há segmentos sociais que conceituam cultura com restrições, reduzindo-a,
como belas artes, belas letras, ou seja, ao campo da erudição.
Essa prática restritiva tem origem nos conventos e mosteiros
da Idade Média. Esses mesmos segmentos sociais acreditam em que a arte refina a
alma, dá ao artista e ao fruidor requinte. Isso também não é verdade, pois os
nazistas que provocaram a Segunda Guerra Mundial eram colecionadores de obras
de arte por excelência e praticaram o genocídio.
Hoje,
no mundo dos negócios das artes plásticas, por exemplo, é carregado de glamour
e custa muito dinheiro. Principalmente se o artista for morto, tido como gênio
pelo “establishment”. Há até uma brincadeira mo mundo cultura: Artista bom é artista morto, valoriza
sua arte e não dá tanto trabalho.
Às vezes, um artista sem grana, sai em colunas sociais por
conta de seu talento. Quanto mais extravagância, mais prestígio, como uma
cantora solicitar leite de cabra em seu camarim.
A palavra cultura no sentido antropológico, como definiu
Edgar Morin, é o modo de vida de um povo. Assim, o analfabeto tem cultura, os
subalternos também. E se chama atenção para o risco da “monocultura”, em que valorizamos
muito o global e desprezamos o local. Estamos vivendo na “Idade Mídia”.
A arte é essencial à vida, ela é como a água. Todos, sem
exceção, precisam pôr o seu eu, suas impressões digitais, tanto na produção
como na fruição. Pagode e música sertaneja também são artes, embora seja
expressão de um segmento social menos prestigiado. A arte dá rumo à loucura.
Atualmente, como forma de encontrar a convivência, fala-se
em cultura erudita e cultura popular. Na verdade, é uma divisão artificial,
porque tudo que é popular, se tornará erudito. Basta apenas pesquisar a origem
de cada arte.
As palavras “arte” e “cultura” revelam isso. Arte no latim
significava arar a terra e “cultura”, mexê-la, cultivá-la. Essa faina foi
transportada para o fazer artístico. Outro dia um vereador se confundiu e me
chamou de “Secretário da Agricultura”, não me abalei, nem pedi retificação, porque
fazemos parte do mesmo campo do conhecimento.
Todo projeto político é um projeto cultural, porque a
cultura é mais ampla, ela é a prática da intersetorialidade de um governo, por
exemplo. Mede-se ideologicamente os governantes pela importância que ele dá à
cultura, principalmente sem fazer a distinção entre erudita e popular.
Na próxima eleição, antes de votar, veja como cada candidato,
cada partido, trata a cultura. Alexandre Padilha, candidato ao governo do
Estado de São Paulo, por exemplo, no próximo dia 19/5/2014, estará reunido com
o segmento cultural paulista, quer ouvir as necessidades para o Estado de São
Paulo. Todos os candidatos deveriam fazer o mesmo.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Secretário municipal de Cultura-SP
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