AGENDA CULTURAL

16.5.14

Política cultural

Há segmentos sociais que conceituam cultura com restrições, reduzindo-a, como belas artes, belas letras, ou seja, ao campo da erudição.

Essa prática restritiva tem origem nos conventos e mosteiros da Idade Média. Esses mesmos segmentos sociais acreditam em que a arte refina a alma, dá ao artista e ao fruidor requinte. Isso também não é verdade, pois os nazistas que provocaram a Segunda Guerra Mundial eram colecionadores de obras de arte por excelência e praticaram o genocídio.

Hoje, no mundo dos negócios das artes plásticas, por exemplo, é carregado de glamour e custa muito dinheiro. Principalmente se o artista for morto, tido como gênio pelo “establishment”. Há até uma brincadeira mo mundo  cultura: Artista bom é artista morto, valoriza sua arte e não dá tanto trabalho.    


Às vezes, um artista sem grana, sai em colunas sociais por conta de seu talento. Quanto mais extravagância, mais prestígio, como uma cantora solicitar leite de cabra em seu camarim.

A palavra cultura no sentido antropológico, como definiu Edgar Morin, é o modo de vida de um povo. Assim, o analfabeto tem cultura, os subalternos também. E se chama atenção para o risco da “monocultura”, em que valorizamos muito o global e desprezamos o local. Estamos vivendo na “Idade Mídia”.


A arte é essencial à vida, ela é como a água. Todos, sem exceção, precisam pôr o seu eu, suas impressões digitais, tanto na produção como na fruição. Pagode e música sertaneja também são artes, embora seja expressão de um segmento social menos prestigiado. A arte dá rumo à loucura.

Atualmente, como forma de encontrar a convivência, fala-se em cultura erudita e cultura popular. Na verdade, é uma divisão artificial, porque tudo que é popular, se tornará erudito. Basta apenas pesquisar a origem de cada arte.

As palavras “arte” e “cultura” revelam isso. Arte no latim significava arar a terra e “cultura”, mexê-la, cultivá-la. Essa faina foi transportada para o fazer artístico. Outro dia um vereador se confundiu e me chamou de “Secretário da Agricultura”, não me abalei, nem pedi retificação, porque fazemos parte do mesmo campo do conhecimento.


Todo projeto político é um projeto cultural, porque a cultura é mais ampla, ela é a prática da intersetorialidade de um governo, por exemplo. Mede-se ideologicamente os governantes pela importância que ele dá à cultura, principalmente sem fazer a distinção entre erudita e popular.

Na próxima eleição, antes de votar, veja como cada candidato, cada partido, trata a cultura. Alexandre Padilha, candidato ao governo do Estado de São Paulo, por exemplo, no próximo dia 19/5/2014, estará reunido com o segmento cultural paulista, quer ouvir as necessidades para o Estado de São Paulo. Todos os candidatos deveriam fazer o mesmo.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura-SP  


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