AGENDA CULTURAL

27.5.15

Hip Hop não é modismo

Hélio Consolaro*

Segmentos de Araçatuba estão surpresos pelo crescimento da cultura Hip-Hop na cidade. Teremos o show com Racionais e Rael, como "#H2 Inversão na Cultura Hip Hop", de 04 a 07 de junho" com a presença dos astros brasileiras do gênero. Não se trata apenas de eventos, pois o espírito dessa cultura perpassa nossa periferia. 

Como secretário, descobri esse segmento da juventude nos Culturaças (Cultura na praça, cultura na raça, cultura araçá). Deixamos sempre as duas horas finais, à noite, para os MCs (mestres de cerimônia). A moçada toma conta da lona do circo numa alegria contagiante. Os grupos nunca cobraram cachês, sempre se apresentaram como militantes de um movimento cultural, com o frescor do novo que vem surgindo. 
Grafite de uma situação nos muros do antigo I.E. de Araçatuba - foram apagados - sem nenhum respeito ao artista e à arte
Geralmente, quem mora em condomínios ou bairros de classe média, não sendo secretário de Cultura como eu, vivendo em lugares belos, no estilo shopping, percorrendo sempre os mesmos caminhos na cidade, não sabe o que acontece na periferia. 

Confesso que entrei em contato direto com essa cultura sendo secretário, por dever de ofício. Como professor de escola pública e particular, via tais manifestações ainda tímidas com certa estranheza. 

Daí a vantagem de se ter o espírito aberto para o novo, para o diferente. Como secretário, não posso ser preconceituoso, devo respeitar todas as manifestações culturais e artísticas, acolhendo e apoiando.  O plano de governo do prefeito Cido Sério (PT) contempla a cultura popular, a cultura de rua. Assim fui adentrando o mundo do Hip-Hop cujos militantes são, na sua maioria, afrodescendentes. A ajuda do DJ Sancler foi muito importante nessa caminhada de reconhecimento. 
Grafite de uma situação nos muros do antigo I.E. de Araçatuba - foram apagados - sem nenhum respeito ao artista e à arte
Nos tempos mais idos, o samba era o ritmo da periferia. Ainda continua, mas não é mais hegemônico. Os evangélicos perceberam isso e aderiram à sua aculturação, hoje já temos o rap gospel.

Os preconceitos existentes hoje sobre a cultura hip-hop (não só música, leia baixo)  é o mesmo que o samba sofreu no final do século 19 e começo do 20. Trata-se do desprezo da elite branca pelos subalternos afrodescendentes, herdeiros da escravidão negra. Geralmente, esse comportamento preconceituoso é exigido da polícia. 

Naquela época, quem fosse pego com um violão, por exemplo, era preso pela polícia, chamado de vagabundo. O Major Quaresma (oficial do exército brasileiro), personagem do livro de Lima Barreto, foi internado num hospício porque passou a tomar aulas de violão com o Ricardo Coração dos Outros. É bom lembrar que os cultos africanos só passaram a ser tolerados no Brasil , sem invasão dos terreiros pela polícia, com a Constituição de 1945.  

Ninguém faz rap, adere à cultura Hip-Hop só porque prefere, ela é a expressão do sofrimento, da revolta pela marginalização, como os pobres são tratados na cidade.  

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

Informações objetivas sobre o Hip-hop 
http://www.significados.com.br/hip-hop

Hip hop é uma cultura artística que começou na década de 1970 nas áreas centrais de comunidades jamaicanas, latinas e afro-americanas da cidade de Nova Iorque. A tradução literal da expressão hip-hop é "balançar os quadris".

Clive Campbell ou DJ Kool Herc é conhecido como o fundador dessa cultura, e a sua irmã (Cindy Campbell) é por muitos considerada como a Primeira Dama do hip hop. No entanto, a designação "hip hop" é da autoria de Afrika Bambaataa. O primeiro evento da história do hip-hop ocorreu no dia 11 de agosto de 1973, em uma festa no nº 1520 da Sedgwick Avenue, no Bronx (Nova Iorque).

O hip-hop tem quatro elementos principais: o rap, o DJing, o breaking (praticado pelos b-boys e b-girls) e a arte do grafite.

Robert, rapper de Araçatuba
Quando o hip-hop surgiu, concentrava-se nos disc jockeys que criavam batidas rítmicas, eram pequenos trechos de música com ênfase em repetições, posteriormente, foi acompanhada pelo rap, identificado como um estilo musical de ritmo e poesia, junto com as danças improvisadas, como a breakdance, o popping e o locking.

A relação entre o grafite e o hip-hop surgiu quando novas formas de pintura foram sendo realizadas em áreas onde a prática do rap, do dj e da dança. Entre as diferentes manifestações artísticas do movimento hip-hop, a música se insere como papel principal, com DJs, MCs (mestre de cerimônias) e do Rap.


O hip-hop tem um estilo de vestir muito característico e origem afro-americana, caribenha e latina. Atualmente as roupas são largas, no entanto, nas suas origens eram mais justas, pois facilitavam os movimentos de dança.

VOCABULÁRIO

Rap: ritmo e poesia, que é a expressão verbal da cultura hip-hop.

Grafite: representa a arte plástica, expressada por desenhos coloridos feitos por grafiteiros nas ruas das cidades espalhadas pelo mundo e especialmente na favela.

Break dance: representa a dança.
Os três elementos juntos compõem a cultura hip-hop.

Rapper - pessoa que canta e faz rap.

DJ - para o hip-hop, tudo começou com um DJ. Um mano pensou na utilização de dois toca-discos repetindo o mesmo trecho, de breakbeat (batida) de um vinil. Deste modo, o DJ poderia aumentar e controlar o tempo da música o quanto quisesse

O hip-hop não pode ser consumido, tem que ser vivido (sem comprar roupas caras, melhorando suas habilidades em um ou mais elementos dia a dia). É um estilo de vida. Uma ideologia. Uma cultura a ser seguida.

A origem e as raízes da cultura hip-hop estão contidas no sul do Bronx em Nova Iorque (EUA). A idéia básica desta cultura era, e ainda é, haver uma disputa com criatividade, sem armas e belicismo; uma batalha de diferentes (e melhores) estilos, para transformar a violência insensata em energia positiva.


O funk é um estilo musical que surgiu da música negra norte-americana no final da década de 1960. Na verdade, o funk se originou a partir da “soul music”, tendo uma batida mais pronunciada e algumas influências do R&B, rock e da música psicodélica. De fato, as características desse estilo musical são: ritmo sincopado, a densa linha de baixo, uma seção de metais forte e rítmica, além de uma percussão (batida) marcante e dançante. Depois, há uma longa história, inclusive a chamada "indecência" por alguns.

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