AGENDA CULTURAL

29.7.17

Naufragar na internet

Para não afundar, faz-se necessária a introspecção, a vivência interior. Tirar um tempinho todos os dias para conversar com sua voz de dentro. 

Hélio Consolaro*

Só quem navega está arriscado a afundar, se isolar numa ilha, mas basta ter um certo cuidado para o naufrágio não acontecer. 

Hoje, navegar não quer dizer apenas cruzar mares, usar o transporte fluvial. Significa também zarpar pela internet, ir para lugares desconhecidos e sombrios. Como não somos tão hábeis que nem Amir Klink, nem sempre voltamos. 

Mas há quem se perca também nos livros, cujos conteúdos nos colocam numa realidade virtual. Vivendo mais o escrito do que o real. Nem tudo que está nos livros é bom, nenhuma mídia é boa por si. E o livro é uma mídia.

Qualquer um pode naufragar nas ondas violentas da realidade virtual, não voltar mais, ficar perdido em alto mar. Fugir do mundo real, perder a noção. Há gente que se perde facilmente, traz isso em seu DNA, como os viciados em jogo ou em drogas, por exemplo. Uma tendência à fuga.

Para não afundar, faz-se necessária a introspecção, a vivência interior. Tirar um tempinho todos os dias para conversar com sua voz de dentro. Alguns chamam essa voz de Deus, outros de consciência, de interioridade. Não importa o nome. É uma forma de não se perder diante de tanta informação.

Mas cuidado, mergulhar no interior também pode gerar um naufrágio, como o autismo voluntário. O fanatismo religioso é uma forma de alienação. Parece mesmo que não há saída. 

Há sim, conviver, ouvir os outros, fazer tudo com moderação. Mergulhar, mas sempre vir à tona para respirar. Usei a linguagem figurada, mas tenho certeza de que entendeu, caro leitor. 

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.

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