AGENDA CULTURAL

9.2.18

A compra do mês no supermercado

Hélio Consolaro*

Entre os brasileiros é costume fazer a compra do mês. Muitas famílias dizem agradecidas: "Louvado seja Deus" quando isso é possível. Comprar o possível, procurar o supermercado mais barato que promove sorteios de prêmios.

O maior sonho da família proletária é ter um um Monza, Del Rey, um Fiat Uno 147, um Gol Quadrado, um Fusca para, no dia da compra do mês, chegar em casa com o porta-mala cheio.

Essa compra do mês é feita no dia de pagamento. Aliás, há quem compare o dia do pagamento como a menstruação: uma tensão antes e uma dor de cabeça depois: ansiedade e preocupação.

No dia da compra, quando ela chega, sempre há algo diferente para as crianças, um doce, um pote de sorvete. Na semana que antecede ao pagamento, até a mistura vai rareando-se, é quando se procuram moedas de 10 centavos pelas gavetas.

No dia 7 de fevereiro de 2018, entre 18h e 19h, fui buscar cervejas, garrafas romarinhos, num supermercado popular da cidade. A Helena me disse:

- Vai ter coragem de ir fazer compras naquele supermercado em dia de pagamento? 

Respondi que sim, pois aposentado precisa fazer alguma coisa, procurar o mais barato. Estacionar, consegui, mas andei mais para chegar até a loja e voltar com o carrinho cheio. 

Se no supermercado popular tudo é muito apertado, com os espaços entre as gôndolas estreitos, os fregueses andam se esfregando, a alegria das pessoas está em poder fazer a compra, garantir o alimento para o mês seguinte.

Se no supermercado de luxo tudo é confortável, o ar condicionado esfria até os corações, corredores largos, os fregueses não se cumprimentam, mal se olham, escolhem o produto mais requintado. Poucos fazem a compra do mês, os carrinhos não são tão grandes. Às vezes, alguns consumidores deixam alguma doação de alimento na caixa de alguma entidade na saída do supermercado para a pobreza esfomeada.  

Parodiando Raul Seixas, assim me sento no trono do status, com a boca escancarada de dentes, esperando a morte chegar, achando que estou contribuindo com minha parte
para nosso belo quadro social. 

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor

Um comentário:

Anônimo disse...

O que não suporto nesses mercados populares em dias de compra do mês, ou não, é neguinho empurrando o carrinho e já bebendo cerveja antes de passar pelo caixa, criança tomando yogurte, apostando corrida com os carrinhos entre as pessoas, brincando de esconder nos corredores e quando não, a senhora ou o senhor, furtivamente, levando uma uva à boca; fico pensando, se cada freguês comer uma uva, imagina o prejuízo do dono do mercado.