AGENDA CULTURAL

3.11.19

Louvar a Deus no incondicional


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Eu sempre uso um estacionamento público de banco, do qual sou cliente, onde há moradores de rua, gente pobre colhendo moedinhas para cuidar dos carros. Na maioria, adultos. 

Já dei "as esmolas" (não são taxas administrativas) a estes meus semelhantes, outras vezes as neguei, rosnando coisas ininteligíveis. A presença deles vinha nos lembrar quão somos imperfeitos em nossas relações humanas.

Mas nesta tarde, ouvi um deles cantando uma frase repetidas vezes, como se  fosse um mantra:

- Deus é bom pra mim! Deus é bom pra mim!

Aquilo me chocou, porque há o conceito consumista formado em nós de que a pobreza gera felicidade, ninguém se realiza na pobreza. Na verdade, achamos que o cantor daquele mantra não tem nada para agradecer a Deus. 

Para nós os pobres são pecadores, gente incompetente para ganhar a própria vida, um castigo dos céus. Embora Jesus Cristo tenha dito que é deles o Reino do Céu. Dificilmente, você, caro leitor, vai ouvir alguém bem-de-vida repetindo o mesmo mantra:

Deus é bom pra mim! Deus é bom pra mim!

Não chega à nossa inteligência que aquele modo de vida, desapegado, irresponsável, sem obrigações, pode ser uma opção consciente. 

Já que o "Meu Reino" não é deste mundo, é mais fácil passar um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico ir para o Céu. 

Com tais reflexões, cheguei em casa, fui surpreendido no jardinzinho de carriola por um louva-a-deus num pé de érica, um predador à espera de sua presa, apesar da posição de ataque, lembrava uma pessoa ajoelhada em oração. 

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