AGENDA CULTURAL

28.5.20

Desinfetante ou antisséptico: e as câmaras? - Alberto Consolaro

Câmaras de “desinfecção” podem trazer danos às pessoas se usarem desinfetantes que lesam tecidos vivos!


Qual desinfetante usar? E antisséptico? O ar fica esterilizado? Posso confiar neste produto ou aparelho? A Anvisa disponibilizou orientações recentemente na Nota Técnica 51/2020 onde procurou orientar o uso de certos produtos e aparelhos. Três conceitos devem ser muito bem esclarecidos:
- Desinfecção é a “redução” de microrganismos patogênicos (ou que possam produzir doenças) em objetos e superfícies inanimadas que os contenham previamente e em seres vivos.
- Antissepsia é “redução” de microrganismos patogênicos em superfícies e partes de seres vivos e que os contenham previamente.
- Esterilização é a “eliminação completa” de patógenos em objetos e superfícies que os contenham previamente e não em seres vivos. Não existe esterilização química e a única forma de esterilização é pela autoclave, um aparelho que usa a temperatura, o vapor e o tempo para conseguir tal objetivo.
Os desinfetantes devem ser usados em objetos e superfícies e não em seres vivos, pois são muito mais fortes e concentrados do que os antissépticos. Eles podem lesar os tecidos vivos e não se deve usá-los no corpo. A norma técnica é clara: não existe “desinfecção de pessoas” e em lugar nenhum do mundo isto é recomendado. Os túneis, câmaras de desinfecção e similares não deveriam ser usados nem em animais!
A Anvisa orientou que câmaras, cabines ou túneis para a dispersão de desinfetantes em pessoas oferecem riscos, apesar de sua instalação em pontos de ônibus, entrada de empresas e terminais de passageiros. Os produtos mais utilizados nelas são hipoclorito de sódio, dióxido de cloro, peróxido de hidrogênio, quaternários de amônia, ozônio, iodo, triclosan e clorexidina, quase todos desinfetantes poderosos, tóxicos e lesivos aos tecidos vivos! Estes produtos foram assim descritos:
1.Hipoclorito de sódio: produto corrosivo que pode causar lesões severas dérmicas e oculares, além de produzir irritação nas vias respiratórias. Não deve ser misturado com outros produtos, pois o hipoclorito de sódio reage violentamente com muitas substâncias químicas e pode potencializar os efeitos adversos.
2.Peróxido de hidrogênio: a inalação aguda pode causar irritação no nariz, garganta e trato respiratório. Em altas concentrações do produto, pode ocorrer bronquite ou edema pulmonar.
3.Quaternários de amônio: pode causar irritação de pele e das vias respiratórias e também, sensibilização dérmica, mas não são corrosivos. As pessoas que se expõem constantemente a eles podem desenvolver reações alérgicas.
4.Iodo: os iodóforos causam menos irritação da pele e menos reações alérgicas que o iodo, porém causam dermatite de contato irritativa. Iodófor, iodófor ou iodóforos são preparados de iodo complexado com agente solubilizante, tal como um surfactante ou povidona (formando a iodopovidona). O resultado é um material solúvel em água com iodo livre na solução.
5.Ozônio: a exposição leve a moderada ao gás ozônio produz sintomas do trato respiratório superior e irritação ocular como lacrimação, queimação dos olhos e garganta, tosse improdutiva, dor de cabeça e subesternal, irritação brônquica, gosto e cheiro acre. Exposições mais importantes, como as de ambientes industriais, podem causar desconforto respiratório significativo com dispneia, cianose, edema pulmonar e hipotensão, podendo levar a óbito. O ozônio pode exacerbar o comprometimento das pequenas vias aéreas de adultos fumantes. É um gás comburente que pode acelerar fortemente a ignição e aumentar os riscos de incêndio.
6.Triclosan e Clorexidina: tais formulações não apresentam a mesma eficácia microbiológica do que as preparações à base de álcool 70% e também não substituem a limpeza das mãos com água e sabonete por 20 a 30 segundos. São antissépticos e não desinfetantes.
ALERTA FINAL
 Detalhe importante da nota técnica: ao contrário das roupas utilizadas nos laboratórios de alto nível de contenção, a paramentação utilizada normalmente pelos profissionais de saúde não é hermética e o material utilizado é leve, não resistente a líquidos, possibilitando o contato do produto químico com a pele e, em algumas ocasiões, com os olhos, elevando o risco de reações adversas.
Ainda alerta que, no caso hipotético de ser realizado o procedimento de desinfecção de pessoas, induz o relaxamento das medidas recomendadas de higienização pessoal e de desinfecção de superfícies, e assim, abre espaço à transmissão do vírus.
 
 Alberto Consolaro – Professor Titular da USP - FOB Bauru-SP. consolaro@uol.com.br 






Nenhum comentário: