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Câmaras de “desinfecção” podem trazer danos às pessoas se usarem desinfetantes que lesam tecidos vivos! |
Qual desinfetante
usar? E antisséptico? O ar fica esterilizado? Posso confiar neste produto ou
aparelho? A Anvisa disponibilizou orientações recentemente na Nota Técnica 51/2020
onde procurou orientar o uso de certos produtos e aparelhos. Três conceitos devem
ser muito bem esclarecidos:
-
Desinfecção é a “redução” de microrganismos patogênicos (ou que possam produzir
doenças) em objetos e superfícies inanimadas que os contenham previamente e em
seres vivos.
-
Antissepsia é “redução” de microrganismos patogênicos em superfícies e partes
de seres vivos e que os contenham previamente.
-
Esterilização é a “eliminação completa” de patógenos em objetos e superfícies
que os contenham previamente e não em seres vivos. Não existe esterilização
química e a única forma de esterilização é pela autoclave, um aparelho que usa
a temperatura, o vapor e o tempo para conseguir tal objetivo.
Os desinfetantes
devem ser usados em objetos e superfícies e não em seres vivos, pois são muito
mais fortes e concentrados do que os antissépticos. Eles podem lesar os tecidos
vivos e não se deve usá-los no corpo. A norma técnica é clara: não existe
“desinfecção de pessoas” e em lugar nenhum do mundo isto é recomendado. Os
túneis, câmaras de desinfecção e similares não deveriam ser usados nem em
animais!
A Anvisa
orientou que câmaras, cabines ou túneis para a dispersão de desinfetantes em
pessoas oferecem riscos, apesar de sua instalação em pontos de ônibus, entrada
de empresas e terminais de passageiros. Os produtos mais utilizados nelas são
hipoclorito de sódio, dióxido de cloro, peróxido de hidrogênio, quaternários de
amônia, ozônio, iodo, triclosan e clorexidina, quase todos desinfetantes
poderosos, tóxicos e lesivos aos tecidos vivos! Estes produtos foram assim descritos:
1.Hipoclorito
de sódio: produto corrosivo
que pode causar lesões severas dérmicas e oculares, além de produzir irritação
nas vias respiratórias. Não deve ser misturado com outros produtos, pois o
hipoclorito de sódio reage violentamente com muitas substâncias químicas e pode
potencializar os efeitos adversos.
2.Peróxido
de hidrogênio: a inalação
aguda pode causar irritação no nariz, garganta e trato respiratório. Em altas
concentrações do produto, pode ocorrer bronquite ou edema pulmonar.
3.Quaternários
de amônio: pode causar
irritação de pele e das vias respiratórias e também, sensibilização dérmica,
mas não são corrosivos. As pessoas que se expõem constantemente a eles podem
desenvolver reações alérgicas.
4.Iodo: os iodóforos causam menos irritação da pele e
menos reações alérgicas que o iodo, porém causam dermatite de contato irritativa.
Iodófor, iodófor ou iodóforos são
preparados de iodo complexado com agente solubilizante, tal como um surfactante
ou povidona (formando a iodopovidona). O resultado é um material solúvel em
água com iodo livre na solução.
5.Ozônio: a exposição leve a moderada ao gás ozônio
produz sintomas do trato respiratório superior e irritação ocular como
lacrimação, queimação dos olhos e garganta, tosse improdutiva, dor de cabeça e
subesternal, irritação brônquica, gosto e cheiro acre. Exposições mais importantes,
como as de ambientes industriais, podem causar desconforto respiratório
significativo com dispneia, cianose, edema pulmonar e hipotensão, podendo levar
a óbito. O ozônio pode exacerbar o comprometimento das pequenas vias aéreas de
adultos fumantes. É um gás comburente que pode acelerar fortemente a ignição e
aumentar os riscos de incêndio.
6.Triclosan
e Clorexidina: tais
formulações não apresentam a mesma eficácia microbiológica do que as
preparações à base de álcool 70% e também não substituem a limpeza das mãos com
água e sabonete por 20 a 30 segundos. São antissépticos e não desinfetantes.
ALERTA FINAL
Detalhe importante da nota técnica: ao
contrário das roupas utilizadas nos laboratórios de alto nível de contenção, a
paramentação utilizada normalmente pelos profissionais de saúde não é hermética
e o material utilizado é leve, não resistente a líquidos, possibilitando o
contato do produto químico com a pele e, em algumas ocasiões, com os olhos,
elevando o risco de reações adversas.
Ainda
alerta que, no caso hipotético de ser realizado o procedimento de desinfecção
de pessoas, induz o relaxamento das medidas recomendadas de higienização pessoal
e de desinfecção de superfícies, e assim, abre espaço à transmissão do vírus.
Alberto Consolaro – Professor Titular da USP - FOB Bauru-SP. consolaro@uol.com.br
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