AGENDA CULTURAL

24.11.20

Você se parece com osso? Como assim? - Alberto Consolaro

 

A biologia do osso permite extrapolar sentimentos e filosofia de vida: interessante!

Alguns pontos da “filosofia” e “inteligibilidade” dos ossos!

1. Aprender e desaprender sempre! Com dinamismo exemplar, os ossos se renovam e remodelam a todo instante para atender as necessidades funcionais e adaptativas. Chegamos a ter 7 a 10 esqueletos na vida.

2. Solidariedade absoluta para servir. Quase a dizer: estou aqui para te fazer feliz, no que quiser!  Sem ossos o corpo não responderia as ordens cerebrais para amar, trabalhar e viajar. A mente depende dos ossos, incrível!

3. Seja firme, mas flexível. Ao vivo no corpo, osso não parece pedra e nem cristal, se compara a uma borracha muito dura, mas flexível para uma adaptabilidade a certos esforços em determinadas situações como acidentes e movimentos inesperados.

4. A arte de articular te leva aos caminhos. Se tem alguém que participa de articulações são os ossos participando de tudo o que se faz. Articulam com os iguais, mas também com os diferentes tecidos moles, músculos e tendões. Participa de articulações perigosas e sensíveis como no crânio e até das minúsculas relações dentro do ouvido.

5. Ser participativo! Atue em todos os processos no trabalho, social ou de lazer. No corpo tudo tem participação do osso com seus minerais levados a todos os lugares pelo sangue que ele mesmo produz no seu interior.

6. Não seja incisivo, cortante e afiado! Isto vai magoar as pessoas. Ossos não têm quinas, ângulos vivos e bordas afiladas para não machucar os tecidos vizinhos como pele, mucosas e músculos. Quanto machuca alguém porque em alguma parte criou se bordas finas, logo pede desculpas e arredonda a parte cortante.

7. Proteja os seus amigos e vulneráveis. As vísceras são muito especializadas e frágeis aos fatores ambientais. Fígado, rins, cérebro, pulmão e o coração precisam ser acolhidos, abarcados e protegidos; o osso oferta esta proteção de forma exemplar e as vezes até se fratura nesta missão.

8.    Tenha memória, não esqueça as origens. Quando um cachorro encontra o osso seco não larga, pois dentro da massa mineralizada ainda tem pequenas e milhões de células lá dentro protegendo o DNA daquele indivíduo. Mesmo queimado, um fragmento pequeno pode fornecer DNA para identificações. A parte mineralizada incorpora proteínas e íons, guardando informações do estilo recente de vida. O cachorro sente que dentro do osso seco ainda tem carne!

9. Perdoe, esqueça e siga em frente! Os sinais de uma fratura, cirurgia ou lesão feita no osso se apaga em alguns meses ou poucos anos. Na remodelação constante, os sinais ou marcas na renovação são trocados por osso novo sem mágoas ou tristezas das feridas anteriores. A mágoa só faz mal ao hospedeiro!

10. Conecte-se! Na parte mineralizada do osso tem uma rede com milhões de células interconectadas chamadas de osteócitos que se comunicam com as células das superfícies interna e externa. Esta rede tridimensional capta qualquer alteração na função e forma do osso. Se precisar esta rede modifica a sua forma e volume se adaptando perfeitamente.

REFLEXÃO FINAL

Os 206 ossos do adulto têm várias formas, tamanhos e estão articulados entre si e com cartilagens, músculos e tendões. Isto permite que o corpo ande por aí, integrando o ser humano ao meio ambiente. Essa integração o osso também pratica com sua parte líquida, pois é quase verdade que o sangue é fase líquida do osso, levando e trazendo seus componentes sem os quais morreríamos.

Sem ossos, os nervos não funcionariam, o coração sem o cálcio não bateria e nem os pulmões se suportariam fisicamente! O cérebro nem pensaria, pois nem lugar para ele existiria! Uma singela sugestão: deixemos de usar o coraçãozinho como símbolo do amor e sentimentos, ou considerar o cérebro como senhor dos pensamentos e sede da inteligência. Usemos um esqueletinho para simbolizar a vida!

E tem mais: osso tem plano B, tudo nele tem redundância e se quebrar, tem outros para compensar e repor! Se lesar osso não morreremos, ele tem empatia e noção de conjunto. Se lesarmos o coração ou o cérebro, a brincadeira acabou! Osso tem noção de conjunto! E nós, humanos? Temos este grau de inteligibilidade em nossa mente?

 

Alberto Consolaro – professor titular da USP, FOB
Bauru-SP  consolaro@uol.com.br

 

 

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