AGENDA CULTURAL

1.4.22

Você é trans ou monotemático? - Alberto Consolaro

 

O conteúdo de conhecimento (a formação) no cérebro determina se somos transdisciplinares e não a quantidade de informações recebidas!

Informação não é formação. Ser bem-informado não é ser bem formado. A formação pode ser sinônimo de conhecimento, mas informação não! Só depois que informação é refletida, analisada, transformada e ou confirmada, pode-se dizer que o indivíduo a transcendeu e gerou conhecimento! Transcender é elevar ou situar se sobre ou além dos limites.

Tudo que está no cérebro passou antes pela visão, audição, tato, olfato e tato. Aristóteles valorizava a sensibilidade como parte essencial da inteligência. O excesso de informação provoca congestionamento de ideias e muita confusão mental, pois não é possível processar tudo que chega nos sentidos. Este excesso de informação se chama “infodemia”. Como a falta de informação, o excesso dela também leva à superficialidade, falta de cultura e à intolerância!

TRANSDISCIPLINAR

A multidisciplinariedade é a verdadeira natureza do conhecimento humano: múltiplo, diverso, polifacetado e compreendido pela maioria dos interessados por ele. Um conjunto de informações e conhecimentos sobre um determinado assunto se chama disciplina, matéria ou especialidade, mas só isto para um cérebro é quase nada.

O conhecimento tem que ser múltiplo e se não for assim, qualquer conhecimento muito específico, focado ao extremo, tende a ficar retido, esquecido e despercebido em um nicho, fenda, buraco ou numa estante, a espera de um raríssimo interessado que apenas o encontra por acaso! Em um ambiente multidisciplinar, as informações e energias se inquietam uma às outras numa troca de interesses e buscas que quase sempre resulta na aplicabilidade daquele conhecimento em um outro texto, contexto, aula ou pesquisa.

Conhecimento multidisciplinar leva o ser humano para a interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Ser um indivíduo interdisciplinar implica em reconhecer que existem limites, cercas e delimitações através dos quais ele visita, consulta e aprende. Já ser transdisciplinar é transitar livremente pelas áreas do conhecimento humano, que em sua visão e ação, se apresentam sem muros, paredes, fronteiras ou limites definíveis.

O conhecimento humano é um conjunto só, e nossa mente e cérebro também é um conjunto só, mas que, às vezes, escolhe apenas um ponto para focar o que chamamos comodamente de disciplina, mas isto é muito pouco, merecemos a multiplicidade e a liberdade de transitar entre as várias áreas do conhecimento humano!

As pessoas monotemáticas são chatas e fáceis de identificar: só falam de um assunto e se acham! Os mais comuns falam sobre esporte, outros só da profissão, tem os que só sabem contar piadas, sem contar aqueles que só falam da vida alheia! Mas tem os que só falam de filmes e séries, viagens, doenças, reclamações etc.

REFLEXÃO FINAL

A sua multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade tendem a evoluir naturalmente para a transdisciplinaridade. Avalie a si mesmo sobre que assuntos tratam suas conversas.  Ser trans significa ser múltiplo, culto e interessante, sem contar que fica divertido levar uma conversa dessas.

Uma conversa é marcante quando há variedade de interesses abordados. Reavalie e parabéns por ser transdisciplinar! A reclamação é geral de que está difícil manter o nível de uma boa conversa! Tente ser transdisciplinar e o mundo inteligente vai conspirar e atrair muita gente legal para o seu redor! 

 

Alberto Consolaro - professor titular
pela USP - consolaro@uol.com.br

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