AGENDA CULTURAL

17.2.24

Beijo não é para qualquer um - Alberto Consolaro

Beijo seguro requer dois critérios: intimidade e seletividade!

Você sabe beijar na boca? Quem lhe disse isso? Como você aprendeu a beijar? O treinamento foi com pedra de gelo, laranja ou manga? E por que será que a maioria das pessoas tem vergonha de mostrar a língua? A língua é essencial no beijar a boca

Em programas milionários de TV, algumas perguntas muito óbvias não são respondidas e o candidato perde milhões. Rapidamente, como proprietários de uma língua e usuários de outras, quantos músculos tem a língua? Claro que vão perguntar para que isto serve e dizer que o importante é usá-la bem. Claro que não, quem conhece sabe usar muito melhor!

 No beijo, a língua usa seus 17 músculos fazendo uma dança de fibras de actina e miosina sob a mucosa macia e aveludada que representa um verdadeiro requinte biológico de superfície. A superfície da língua chega a ser irregular pelas milhares de papilas e sensores neurais que possui e, ao passar pela pele, pode dar a sensação de uma aspereza agridoce.

Se movimenta 23 a 34 músculos da face durante um beijo e outros 112 do corpo. Gasta-se até 100 calorias, afinal são 12 nervos acionados durante um beijo bem dado, quase que numa viagem celestial. Muitas pessoas preferem um beijo de boca a carícias feitas com as mãos, por que os lábios têm 100 a 200 vezes mais sensibilidade do que as pontas dos dedos.

Os lábios e a língua anatomicamente bem preservados são lindos e a maciez dos músculos são insubstituíveis. No beijo, os lábios são pressionados como se tivesse 12kg de peso sobre os seus tecidos no boca a boca. Deveríamos fazer exercícios labiais para deixá-los tumefatos, sedosos e brilhosos, sem flacidez e opacidade. Infelizmente, ninguém faz exercícios para os lábios e a língua.

Escrevamos na camiseta: beijar é viver! De vez em quando ainda se ouve dizer que depois do beijo, sentiu o coração saltando pelo peito afora, com 150 batimentos por minuto aumentando um litro de sangue a ser impulsionado por minuto para o resto do corpo. Beijar não é para qualquer um e já disseram que um beijo “daqueles” passa a sensação de que se está vivo ainda, usufruindo-se de todas as potencialidades. Seria um bom teste nos serviços de cardiologia!

Se não for o local mais sensível do corpo, a língua representa um dos mais ricos em terminações nervosas sensoriais. Ao beijar, nossas glândulas e tecidos liberam muitos mediadores ou hormônios que mudam toda a fisiologia naqueles mágicos instantes: adrenalina, dopamina, oxitocina, endorfina, serotonina, testosterona e outros agentes reacionais. Os anjos do amor fazem uma festa durante um beijo e no “céu da boca”, servem o néctar dos deuses. Na folia carnavalesca, um beijo de língua com maestria, mesmo sem ver direito a cara do outro, pode até fazer apaixonar. O primeiro beijo pode ser fatal!

REFLEXÃO FINAL: O LADO B

Sempre se tem o Lado B que significa o lado perigoso ou chato de alguma coisa. Também temos o “Lado B do Beijo”, pois com ele se pode adquirir até 1 bilhão de microrganismos de 300 espécies diferentes. São bactérias, vírus, parasitas e fungos misturados com saliva que forma uma gosma lubrificante, gostosa e viscosa que nos fazem esquecer totalmente o alerta do poeta Vinicius de Moraes em suas músicas: “... são demais os perigos desta vida, pra quem tem paixão”.

Esta saliva ou “gosma” é tão grudenta que parece ter glúten, pois pode ficar em nossa boca por até 3 dias depois, e às vezes, para matar a saudade, até queremos isto mesmo! Se tem muitas doenças que podem ser obtidas pelo beijo como o HPV, gripe, herpes, mononucleose, sífilis e outras.

Para nos protegermos do “Lado B do Beijo”, devemos seguir dois critérios:

1º). Intimidade: é beijar na boca e não o sexo convencional. Beijar na boca é dizer ao outro: vou correr todos os riscos e te beijar na parte mais contaminada de teu corpo que é a boca.

2º). Seletividade: antes de beijar pergunte a si mesmo, como deve ser a boca desta pessoa, vale a pena arriscar?

Se a resposta for um consciente sim, você está quase apaixonado e, se o beijo for bom demais, estarás completamente dominado pelo desejo de amar! E convenhamos: é bom demais! 

Alberto Consolaro 

Professor Titular da USP  
FOB de Bauru 

consolaro@uol.com.br


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