Hélio Consolaro
Por mais que procuremos o outro, estamos sempre só, mastigando nossos problemas, pensando o mundo. Nascer é ser jogado à sua própria sorte, sair da proteção da mãe. “Vai, Carlos! ser gauche na vida.”
Parece texto de auto-ajuda, mas é filosofia, é Martin Heidegger (1889-1976). A diferença entre nós se dá com o jeito de cada uma lidar com a solidão. Se me dou bem com a solidão, ela se torna um sentimento de liberdade, por isso estar preso numa cela não é prisão, porque posso voar.
Agora, caro leitor, estou só no meu cafofo, escrevendo este texto. Preciso da solidão para conversar comigo mesmo. O Consinha, meu neto, veio aqui, mas dei um jeito de ficar sozinho e terminar minha tarefa diária. Sei que meus 33 leitores, quando estiverem me lendo, também estarão sozinhos, cada um no seu canto com o jornal nas mãos. E eu continuo também só.
Nem todos são iguais, há gente que interpreta a solidão como abandono, uma espécie de desconsideração dos outros e de Deus. Não vive a sua vida, mas a dos outros. Desconhece-se. Não é protagonista de sua própria história, é um coadjuvante.
Não sou isso ou aquilo por causa dos outros, sou responsável por minhas escolhas. Preciso aceitar correr os riscos que forem necessários para atingir os meus objetivos. Preciso ser senhor de mim mesmo.
A solidão é a condição do ser humano. Há momentos da vida que a decisão é só minha, há momentos que o sofrimento é só meu, por mais que outro seja solidário, não posso dividir a dor com ele. Mesmo com o outro ao meu lado, sou um solitário.
Escrevo isso, caro leitor, pensando em Odette Costa, companheira de jornal e confreira de Academia Araçatubense de Letras. Ela está só na UTI da Santa Casa há 30 dias, inconsciente. Abandono?
Todas as pessoas que foram notícia em sua coluna social nos 50 anos de atividades não podem ficar diuturnamente em volta dela, não ajudariam.
Os companheiros de trabalho da Folha da Região não podem deixar de editar o jornal. Nem os acadêmicos médicos da AAL podem fazer algo, a não ser acompanhar o tratamento dado pelo colega Fábio Bombarda.
Sei que irmãos de fé da Catedral estão dando assistência diuturna à Dona Odette, sei que Cida e Vanda estão lá cuidando do apartamento dela e do professor Almir com seus 80 anos. Sei que amigos mais próximos estão ajudando financeiramente, porque os pagamentos de Almir e Odete estão (ou estavam) bloqueados. Tudo isso é muito bom e dignificante ao ser humano.
Mas Dona Odette está só na sua luta contra os moinhos de vento, sozinha, nem tem a companhia de Sancho Pança. Vive plenamente essa condição humana de ser só.
Um comentário:
é mesmo... tem gente q se sente sozinha mesmo na companhia dos amigos ou colegas..
ou entao eh soh nakele momento.. depois quando volta pra casa se sente só...
a gente vive de momentos..!
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