AGENDA CULTURAL

28.8.06

Troca-troca na coluna social (ver foto abaixo)

Hélio Consolaro


Dizem os entendidos que a plebe gosta de ler coluna social e os anúncios das Casas Bahia. O pobretão olha aquela grã-finagem ou aquele eletrodoméstico e diz:

- Ainda chego lá!

Vai jogando na loteria, e nada! E a gente vai levando... Vêm os filhos. Quem sabe alguém vai ser jogador de futebol. E nada! E a gente vai levando... De repente, caro leitor, estamos nas páginas das notícias policiais ou no obituário.

Não há mais nada torturante para o anônimo do que o próprio anonimato. Mas há um paradoxo (o ser humano é cheio de contradições). Se por acaso se torna uma celebridade, grita:

- Tenho direito à privacidade!

Felizmente, caro leitor, sou um pobretão realizado, já saio nas colunas sociais e compro nas Casas Bahia. Se o presidente da República é um operário e fala “nóis vai”, aqui no interior nóis também é chique.

E noto a evolução. Felizmente, o moralismo está em decadência, aquela coisa do mundo das aparências e da arrogância, tão a gosto de alguns colunistas sociais.

Antigamente, saía assim: o senhor fulano com a esposa. A teúda e manteúda ficava no ostracismo, numa boa casa montada na periferia da cidade. Mulher casada com amante, nem pensar. Era o exercício da poligamia humana, tão castrada social e religiosamente.

Hoje, os amantes saem na mesma foto do casal. Um suingue imagético. De repente, o casal desaparece das colunas sociais, dá um tempo, entrou em crise.

Em outras festas chiques, o fulano reaparece com a outra: “Fulana e beltrano vivem um namoro apaixonante”.

Calma, caro leitor. Não estou prejulgando ninguém. Acho isso até legal, pois as coisas estão mais às claras.

Mas nem tudo é glamour ao se montar uma coluna social. Até o colunista ou a colunista, com aquela pose, tem suas fraquezas, seu dia de caça. Às vezes, a realidade dos bastidores vem à tona e o glamour vira bafão. Afinal, nem sempre as paredes e os biombos conseguem esconder tudo.

Certa vez, num jornal de interior, o colunista compôs o texto, fez as legendas das fotos, deixou redondo para o arte-finalista paginar.

E digitou um recado numa das legendas: (colocar só a véia), isto é, era para fazer uma máscara nos demais componentes da foto.

O arte-finalista cochilou, se esqueceu de tirar o recadinho do colunista. Noutro dia, estava impressa na página, bela e fogosa, a observação entre parênteses na legenda: (deixar só a véia).

Na edição do outro dia, mil desculpas do jornal, explicação do inexplicável, bajulação sobre a terceira idade, “véia” era a avó de quem fez aquilo, coisa e tal, com arte-finalista demitido e colunista social abatido, sem glamour.

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