AGENDA CULTURAL

17.10.06

Candidato submete-se a trote

Hélio Consolaro

Na semana passada, tirei um sarrinho nos candidatos de nossa região, houve repercussão, até um deles me telefonou, puxando-me as orelhas. Tudo bem! Afinal, quem escreve o que quer, ouve o que não quer. Isso faz parte do jogo democrático.

Na verdade, ser candidato é apostar na democracia. Essa generalização de que “político não presta” não faz bem a ninguém. Eu não gostaria de ouvir alguém dizer que todo cronista não vale aquilo que o gato enterra, apesar de que os felinos urbanos andaram perdendo esse costume. Generalizar não é uma atitude sábia em nenhuma situação.

Ser candidato a algum cargo público entre nós é passar por uma prova de fogo, semelhante ao trote estudantil. Parece que o povo quer ver se ele tem os nervos de aço. Depois de eleito, é a vez de ele passar o trote no povo.

Político precisa ter duas mães, sorriso fixo na cara, pegar criancinha no colo, dar tapinhas nas costas e até andar montado em avestruz.

Se falar mal do adversário, não fizer o estereótipo, dizendo: “vote em mim”, “pense em mim”, “não pense no outro”, alguém diz:

- Esse não ganha! Não sabe nem mentir?

Um cidadão comum tem 80% de pessoas que acreditam na honestidade dele, 20% duvidam. A partir do momento em que se entra na política, esses números se invertem: apenas 20% (e olha lá) acreditam na pessoa dele, os demais passam a maledicentes.

O candidato é acusado de roubar, é sem-vergonha, só protege parentes e apaniguados, a mãe dele não é mais virgem. Basta alguém dizer uma besteira num bar sobre algum político, que ela se esparrama pela cidade, ofendendo a reputação dele, claro. Sem falar de cronistas de plantão que falam deles com a maior facilidade. Os boquirrotos.

“Não existe candidato melhor do que o meu, porque sei escolher”, pensa o eleitor radical. E o radicalismo mudou de lado ultimamente. Sempre eu disse que ele não tem caráter ideológico, ele é comportamental, faz parte do temperamento de certas pessoas com visão unilateral do mundo.

O eleitor radical tem o direito de pensar assim, mas impor essa escolha a alguém, querer que o outro pense como ele, já é não saber conviver.

Mandam e-mails, enchem a caixa postal dos outros de “spam”. É bom dizer que quem repassar acusações infundadas pode ser processado solidariamente.

Quem votou no Clodovil é veado, no Enéias é louco, no Lula é passa-fome, no Alckmin é calhorda. “Votar bem é votar no meu candidato” – diz o radical, como se ele fosse o dono da verdade. Quando presencio tal comportamento, seja de um lado ou de outro, só me resta um sorrisinho no canto da boca. Que estreiteza de espírito!

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