Hélio Consolaro
A foto de Entrelinhas de hoje mostra uma mulher entrevistando um urso. Quando a vi pela primeira vez, de relance, pensei se tratar da Condoleza Rice, mulher forte do governo Bush, batendo um papo nada amigável com Kim Jong-il, presidente da Coréia do Norte.
Não era nada disso. Era mesmo uma cidadã comum dando uma de jornalista, entrevistando um urso num zoológico qualquer.
Sabe-se que jornalistas gostam de entrevistar artistas. Alguns editores conversam com presidentes, prefeitos. Certos repórteres investigativos entrevistam presos foragidos da Justiça, mas de vez em quando encontram um urso pela frente: um homem feio e truculento.
Na foto (da AFP), nota-se que a mulher se divertia enquanto entrevistava o jovial urso. Não sei se ela o tinha como amigo, porque ter um amigo-urso não é bom negócio. Aliás, pelo andar da carruagem, o presidente Lula tinha muitos amigos-urso nas fileiras do PT. E aprontaram com ele aquela ursada. Só a história irá esclarecer tudo isso.
Na política, o que mais se encontra é amigo-urso. Trança pé daqui, dali, de repente grita-se: fui traído. Aliás, não devia adentrar o portal da apolítica quem divide o mundo entre “amigos fiéis” e traidores não percebe que os relacionamentos possuem infinitas possibilidades, que nem tudo se reduz a dois extremos: 8 e 80. Pessoas maniqueístas deviam procurar um convento e se enclausurar para não ter tantas decepções. Na política, conversa-se com um e flerta-se com outro, como faz a mulher do vizinho.
Fiquemos na foto. Que a repórter perguntava ao urso? Ela podia ser uma foca (jornalista novato) que fazia aquelas perguntinhas idiotas:
a) Se você não fosse um urso, que animal gostaria de ser?
b) Se você fosse um jornalista, que animal iria entrevistar?
c) Você é urso ou amigo-urso?
Perdoe esse croniqueiro, caro jornalista, mas há cada profissional na área... A entrevista seria capa da revista “Veja” que lá em Santo Antônio do Aracanguá muda de nome: chama-se “Óia”.
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