AGENDA CULTURAL

23.11.06

Caiu da Ponte Preta

Hélio Consolaro

A mulher caiu da ponte que dá acesso ao bairro do Goulart, nas vizinhanças de Araçatuba e Birigüi, mas a travessia não está preta nem branca, está sem pintura, da cor da madeira. Quem pintou a ponte de preto foi a boca do povo. Talvez, quando era uma pinguelinha, hoje é um pinguelão, alguém tenha dado um banho de óleo cru nela, e o apelido pegou.

Os engenheiros disseram que a ponte é boa, passam caminhões carregados por cima dela, mas se a mulher caiu, ela deve ser ruim, porque as coisas existem também para proteger as pessoas e não só as máquinas. É uma ponte sem corrimão, por onde bêbado não pode passar, catando frango.

Quem sabe a mulher ficou com medo, pensou: “Vou, cair, vou cair!” E deu vertigem nela, perdeu a direção, e caiu mesmo, com bicicleta e tudo, deixando o marido desesperado. Ainda bem que tudo não passou de simples arranhões. Assim, Maluly Neto nem ficará de consciência pesada.

Há maridos por aí torcendo pra mulher cair da ponte, e a chance não aparece. Eta sorte marvada! Essa mulher que caiu da ponte é mesmo amada, foi socorrida pelo marido.

Por um triz a mulher não morreu. A equipe de reportagem comandada por Arnon Gomes não sabia se fazia a cobertura jornalística ou a socorria. Optou pelo socorro e deu tempo de fazer as duas coisas. Primeiro a vida, depois a notícia.

Por um triz também que o Jorginho Maluly não se elegeu deputado, ficou na suplência, dependendo dos outros. Talvez esses votinhos que faltaram, são lá dos arredores da Ponte Preta. Desgraça pouca é bobagem, siô! Fez uma pinguela, então o povo deu uma quirera de votos.

Por sorte, não foi a Ponte Preta que caiu ainda, mas a mulher caiu da ponte, porque o time de Campinas vai cair mesmo para a série B do campeonato brasileiro. E o estrago será maior. Caem salários, técnicos e jogadores. Queda geral.

Perto da ponte, havia uma palmeira com um palmeirense em sua parca sombra que gritou:

- Que salvem a mulher e a Ponte, mas deixem o Palmeiras em paz à beira do abismo, como um joão-bobo, cai, não cai, cai, não cai.

Bem na hora da queda, havia um corintiano que fotografou a cena, o Valdivo Pereira. E ele logo gritou:

- Por que não cai o Palmeiras, caramba, para eu fotografar...

O Arnon Gomes, santista, repórter desta Folha; e o João de Paula Pinto, outro linguarudo por profissão, são-paulino feliz, riram, vendo os apuros dos palmeirenses, inclusive desse croniqueiro. Todos se batendo. E gritavam:

- Vai cair de novo para série B? Acostumaram, hein?

Os palmeirenses responderam:

- Vai pra ponte que te partiu!

E tudo terminou bem. Em pizza. Mas o Palmeirinha está a perigo.

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