AGENDA CULTURAL

5.11.06

Livrar-se da onça

Hélio Consolaro

Não sei, caro leitor, se já ouviu “causos”. Na minha infância, nesse mundo ermo que era a zona rural de Araçatuba, sem energia elétrica e sem tudo, só restava às pessoas pôr as cadeiras no terreiro e contar aquelas histórias sob o luar.

Assim, contavam-se muitos “causos” de onça, o animal tido como mais violento do mato. Dois compadres passavam pelo mato, vinham de uma pescaria, quando ouviram barulho de filhotes num oco de tronco de árvore.

O primeiro tentou pôr a cabeça no buraco para ver os filhotes da onça, mas era cabeçudo, desistiu da empreitada. O segundo, menos afortunado de cabeça, forçou e pôs a moranga dentro do buraco, mas depois não conseguia tirá-la Ficou preso. E a onça podia chegar. Puxa daqui, puxa dali e nada.

O compadre cabeçudo se despediu, ia buscar um machado para arrebentar o tronco, mas também rezava para que a onça não chegasse nesse ínterim.

Andou um pouco. Estacou. Não podia abandonar o compadre à própria sorte. E se a onça chegasse? Voltou sem se anunciar, pisando macio, quebrando pauzinhos, imitando o andar do felino.

O compadre preso se estrebuchava, gritava, pensava que fosse a onça. Quando o compadre cabeçudo pulou nele, como se fosse a onça, o compadre tirou a cabeça do buraco num solavanco, ficando sem as duas orelhas.

É melhor perder as orelhas do que a vida, conformou-se o compadre desorelhado.

OUTRO CASO. Meu amigo Domingos Nocera, a quem chamo de Segunda-Feira, pois gosta de trabalhar, e no pesado, estava lá pelas bandas de Mato Grosso, e a fama de uma onça na fazenda corria léguas na redondeza. Não acredite muito nessa história dele, caro leitor, porque o cara não mente, mas aumenta um tantão assim.

Ele e um amigo caminhavam pela trilha, quando perceberam que a onça com fama de assassina acompanhava-os. Nem preciso dizer que a tremedeira dominou os dois. Não sei se não melaram as cuecas.

Eles andavam, a onça também. Estavam ao alcance de um bote da felina. Domingos se lembrou de um programa que havia visto na tevê. Se ele imitasse um bicho qualquer, a onça desistiria deles.

E assim fez Domingos. Pulou como um bugio. Um bugio branco que guinchava loucamente. Seu amigo contou depois que pareciam gritos de gay. Deixe pra lá, quem sou eu para julgar alguém.

A onça se assustou com aquele bugio improvisado, escafedeu-se. Domingos olhou de lado, cadê o amigo, só via no caminho um sujeito correndo tanto que suas pernas pareciam de personagem de desenho animado em desabalada carreira.

Perguntei ao Domingos que lição ele tirou disse, ela firma que não há problema sem solução, para tudo há uma saída.

Um comentário:

Anônimo disse...

Será?
"Quando nos abandonamos não sofremos. Quando nos abandonamos, mesmo a tristeza, não sofremos mais" Não deixa de ser uma solução, não é?!
Quando gritamos SOCORRO por todos os poros e...não encontramos quem faça essa leitura...entregamos a Deus, Ele há de nos socorrer se a pessoa ou o Anjo que Ele nos enviou desistiu de nós.
Um grande beijo, professor.