AGENDA CULTURAL

5.11.06

Ética no Bate Forte

Hélio Consolaro

Os barrigudinhos lotaram o boteco Bate Forte na sexta-feira pós-feriado, Dia Nacional da Cerveja. Havia dupla caipira, bilhar e outros jogos. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, corriam por todos os lados para atender aos pedidos que vinham aos gritos:

- Uma quadrada aqui, bem gelada!

- Por favor, uma porção de calabresa pro degas!

Seu Sugiro, lá da calçada, gritou:

- Sugiro espetinhos de filé miau!

E todos pediram o famoso petisco para alegria do japonês churrasqueiro.

Dona Assunta administrava a cozinha, toda avermelhado com a quentura do ambiente; Amelinha ficava na caixa, mais anotava do que recebia. Ajudava, mas era preservada naquela função. E assim funcionava a microempresa brasileira.

Assim que chegava, cada um olhava para o Santo Onofre e se benziam, jogando um gole, como forma de se autoproteger. Na outra sexta-feira, não fizeram isso e Subversivo desmaiou.

Burguês chegou e já foi inquirido sobre o resultado da eleição presidencial por Magrão:

- Como é? Gostou do resultado?

- Adorei! – respondeu Burguês.

- Mas em Araçatuba, o Geraldo ganhou! – disse entusiasmado Miltão.

Houve um vozerio danado, cada um gritava sua opinião. Aquela discussão de assunto apaixonante, como Palmeiras e Corinthians.

Burguês voltou à carga:

- Então, está provado que Araçatuba não fica no mapa do Brasil. Aqui, quando ninguém mais votava no Maluf, os araçatubenses continuavam dando voto ao libanês. As coisas chegam com atraso na Terra dos Araçás...

- Não seria por que somos mais adiantados que o Brasil? – ironizou Miltão.

Bicho Grilo entrou na conversa:

- São Paulo é o único estado que não precisa do governo federal, portanto as ações administrativas de qualquer presidente, como consertar estradas federais, não têm reflexo entre os paulistas. Aqui sentimos apenas os reflexos da política econômica.

A discussão estava muito elevada para aquele antro de machos beberrões. Quando Subversivo gritou:

- Os tucanos enfiaram aquele dedo que falta no Lula no...

Miltão estufou as veias do pescoço, avançou pra cima de Subversivo, mas parou. E gritou:

- Não vou bater em doente... Você está muito fraquinho, cara! Não agüenta um empurrão. Modere a sua língua! Precisamos de mais ética...

- Quem sempre viveu mamando na prefeitura, só ia receber os salário, está agora a exigir ética! – resmungou Subversivo.

Faca Amolada, percebendo o mau clima criado, pediu moderação deu o grito da paz:

- Rodada por conta da casa!

E todos molharam a palavra em copos de cerveja na maior alegria.


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