AGENDA CULTURAL

26.11.06

Não é um vale de lágrimas

Hélio Consolaro

Já descobri que os cientistas são mesmo seres sem graça. Para tudo, eles têm explicações, na roça deles não há canteiros da poesia, nem vasos da filosofia. A tradição religiosa, então, fica sem água. Já destruíram até o romantismo da Lua! Chatos...

Veja a notícia, caro leitor, a nova tentativa. Cientistas explicam saída do corpo e tiram toda a graça do fenômeno. Aquilo que espíritas perdiam até o fôlego para explicar, parecia algo místico, os cientistas tentam explicar e fica até chato...

A sensação de saída do corpo, freqüentemente descrita durante experiências de morte iminente, é provocada por "perturbações de um processo complexo de coordenação, que podem atualmente ser localizado no cérebro", revelaram cientistas suíços.

Os neurologistas Olaf Blanke e Margitta Seeck fizeram a descoberta durante a localização por estímulos elétricos de áreas chave do cérebro a fim de identificar certas partes do córtex responsáveis por formas severas de epilepsia. Eles são pesquisadores do Departamento de Neurociências Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Genebra (UNIGE) e do Instituto de Neurociências da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL).

Daqui a pouco vão descobrir que céu e inferno fazem parte de nosso cérebro... E que os chifres têm razões psicológicas. Põem-se as aspas na cabeça e não tiramos mais. Também vão dizer por aí que exploramos planetas, mas o cérebro continua inexplorável pelos cientistas.

"Neste momento, o cérebro gera uma imagem do corpo, mas esta imagem é deslocada, como que projetada sobre o corpo, à frente ou atrás dele", descreveram os cientistas nesta semana.

Não estou dizendo! Para cientistas, paixão é cio, romantismo é doença... Mas, pensando bem, não posso ser tão contra eles assim. Afinal, a ciência salvou a vida de muita gente. As pessoas vão ao curador, mas não deixam de ir também ao médico. O povo sabe articular muito bem fé e ciência.

Já tomei uma decisão, caro leitor, aceito a ciência, mas também gosto da arte, adoro filosofia e sou um sujeito místico. Se não consigo rezar o terço, procuro a física quântica.

Só não é possível caminhar na estrada da vida com animação, se eu souber que no final dela vou bater com a cara no muro, um beco sem saída... Não é mesmo! Essa esperança da transcendência ou mesmo da imanência é necessária, dá sabor à vida. “Em que crêem os que em nada crêem?” – já perguntava o ex-arcebispo de Milão.

Então, bebo de várias fontes, mato a minha sede e me construo e me reconstruo. Nado neste mar de ilusões que é a vida. Ela só não pode ser um vale de lágrimas...

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