Hélio Consolaro
A minha educação musical, se é que existe, foi aleatória, construída pelas circunstâncias e pelos amigos, nada sistemática que fosse além de alguns solfejos ensinados pelo maestro José Raab na 5ª. série do antigo IE em 1962.
Meu pai tinha um cavaquinho que sumiu junto com o desejo dele de aprender música. E este croniqueiro enfiava-o debaixo do braço e fazia de conta que tocava. Dele e de minha mãe ficou apenas a habilidade de assoviar músicas.
Este croniqueiro e seu irmão Gegê ensaiavam, cantando músicas caipiras, principalmente a música “Abra a porta e janela”. Como Seu Luís não foi nenhum Francisco, a dupla Consa e Gegê morreu no ninho.
Também, na época, ter filhos cantores e jogadores de futebol não eram sonhos dos pais nem portas para se sair da pobreza, Seu Luís quis mesmo estudar os filhos. E conseguiu. Por isso, o filme “Dois Filhos de Francisco” me comoveu pela obstinação do pai.
A minha educação musical veio pelo rádio, aquela “caixa de abelha”, com dois bambus enfiados em cada lado da casa, ligados por um fio que era a antena. Os rádios de meus avós eram à bateria (bateria de carro). E todos ficavam na sala ouvindo os programas (aquela chiadeira).
Foi dessa época, e morreu em 8 de novembro deste ano, um cantor mexicano cujas músicas eram muito tocadas nas décadas de 50 e 60 no rádio brasileiro: Miguel Aceves Mejia. Mário Moreno, o Cantinflas, foi outro mexicano que morou no coração do povo brasileiro com seus filmes.
Mejía popularizou o “mariachi sinfônico” em toda a América Latina. Outro grande sucesso foi o huapango “Roga por Nosotros”, que cantou de joelhos, em Buenos Aires, num tributo a Eva Perón, o que lhe valeu a amizade eterna de Juan Domingo Perón. Mejía usou durante mais de 50 anos o charro, traje típico.
Caso não acredite, caro leitor, em todas essas antiguidades contadas aqui, procure o Belô, o Líbero Bezerra de Lima, que trabalha na Rádio Cultura FM até hoje e foi locutor na década de 50. O cara é um arquivo do rádio brasileiro, sabe tudo.
O meu amigo JMT, que também já atuou no rádio araçatubense, me chamou para contar seu encantamento com a nova tecnologia: MP3 no ouvido e no carro. 200 músicas num CD. USB no banheiro e no carro. Sem falar de muitas rádios na Internet e na Sky, canais por gênero. Logo, logo, a gente vai ouvir música ao abrir a porta da casa.
Escrevo tudo isso para explicar à poetisa Wanilda Borghi que ela cometeu um desatino ao me convidar para cantar o poema musicado de Marilurdes Martins, a Lula, “Araçatube-se”. Ou, então, ela é inimiga da Lula, e eu não sabia. Só canto mesmo no banheiro.
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