AGENDA CULTURAL

25.2.07

O primeiro Viagra


Hélio Consolaro

O cara brochou naquela noite. Ficou preocupado. Como consolo, lembrou-se de uma frase de Jô Soares: cara que sente tesão pela mesma mulher durante 25 anos é tarado.

Como uma colega de trabalho sempre o tentava, resolveu fazer o teste. Quem sabe com a outra isso não ocorreria. E foi, deu crise moral no motel, brochou também. Que vergonha!

O negócio era tomar Viagra. Consultar médico, nem pensar! Mas como comprar o desgraçado do comprimido, era confessar para o balconista sua impotência sexual. Alguém iria saber e podia esparramar a notícia:

- O Wellington da loja de disco é brocha!

Bem que podia comprar o Viagra numa cidade vizinha, mas o remédio já era caro, ainda ia gastar combustível. Teria que ser na sua cidade mesmo. Bem que lhe falaram, depois dos 50 anos, a coisa pega.

Em que farmácia comprar? Escolheu uma de bairro que ninguém o conhecesse.



Ao chegar, havia vendedoras e muitas pessoas na farmácia, mas poderia escolher o rapaz para atendê-lo, embora o ideal fosse um balconista de 50 anos. Já pensou se o rapaz dissesse alto:

-Tá aqui o levanta morto, tio!

Mas onde achar o bom velhinho, vendedor de Viagra? Putz! Que situação. E ele pensava que tais apuros sexuais teriam ficado lá atrás, na primeira vez, ainda adolescente; ou na compra da primeira camisinha... Agora, havia o primeiro Viagra.

Veio a mocinha:

- O senhor deseja alguma coisa?

- Quero falar com o rapaz lá!

A mocinha riu sorrateiramente. Já imaginava de que se tratava. Devia ter pensado: “Esse já foi”.

E ficou circulando na farmácia, envergonhado, cabeça baixa.

O rapaz atendente solicitou-lhe o pedido, mas perto dele encostou uma mulher balzaquiana. Deu vontade de empurrá-la, por isso enrolou, pediu sabonete, pasta de dente, fio dental. Ela saiu. Falou baixinho ao balconista:

- Quero Viagra...

Estava desmascarado, havia assumido publicamente que era um brocha. De cima da escada, o balconista perguntou-lhe se era o de 25mg ou 50mg? Nem sabia disso, preferiu o mais fraco.

- Pague no caixa, tio! – disse o vendedor.

O medicamento foi posto numa sacola opaca, estava salvo.

Quando chegou à caixa, lá estava uma mulher. Putz! Perguntou-lhe quanto tinha de pagar. E ela respondeu-lhe:

- Preciso do medicamento para a leitura do código de barras.

Ele queria que o chão se abrisse e fosse tragado pelas entranhas terrestres. Não houve saída, vermelho de vergonha, passou-lhe o medicamento.

Ela olhou pra ele, como a dizer:

- Brochando, véio safado!?

Saiu suando frio.

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