Hélio Consolaro
O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos. Todos faziam seus pedidos aos gritos. Faca Amolada e seu futuro genro, Caneta Louca, atendiam esbaforidos aos pedidos, correndo pra cá e pra lá.
Cada barrigudinho, ao chegar, pedia uma cerveja ou uma dose de cachaça que tinha o seu primeiro gole dado ao santo Onofre que observava a bebedeira lá de cima de seu nicho.
Dona Assunta não compareceu, estava adoentada, com espinhela caída. Veio no lugar Dona Josefa. Amelinha mais marcava do que recebia na caixa.
- Uma porção de calabresa, por favor! – gritou alguém.
Seu Sugiro retrucou da calçada, onde trabalhava com sua churrasqueira:
- Garantido, espetinhos de filé miau, muito bom! Até o Consa come!
- O Consa come qualquer coisa, está na fase do urubu! – disse Miltão.
Todos riram. Assim, os pedidos se amiudaram. O japonês churrasqueiro ria à-toa.
O Magrão queria saber o porquê da segunda placa colocada logo abaixo da outra, no estacionamento da UBS do bairro, que ficava logo ao lado do Bate Forte. Bicho Grilo já respondeu de pronto:
- Pra você, ué! Você não está estacionado no lugar dos cadeirantes? Então, a segunda placa chama as pessoas que fazem isso de “deficientes mentais”. Não entendeu, não!
- Mas agora não é hora de expediente, cabeçudo! A UBS está fechada! – explicou Magrão.
- Fechada ou aberta, a placa precisa ser obedecida, entendeu, seu imbecil! É uma questão de cidadania.
Todos ficaram pasmos. Bicho Grilo, o homem zen do Bate Forte, perdendo a calma. O Magrão deu a resposta:
- Ele é mesmo um zen-vergonha!
Bicho Grilo ameaçou, gritou:
- Me segura, senão arrebento esse cara! Me segura!
Dr. Duas Caras, de sua mesa, pediu calma. Dizendo:
- A violência não vale a pena!
Faca Amolada, vendo o clima criado, gritou logo:
- Rodada por conta da casa!
Até Subversivo estranhou Bicho Grilo. Agora, não era ele o briguento do Bate Forte, havia arrumado um substituto, estava moderado demais.
E tudo voltou ao normal, pois nada melhor do que um presente para acalmar os corações.
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