AGENDA CULTURAL

17.2.07

Solte a franga, meu bem!


Hélio Consolaro

Em qualquer terra em que os homens amem.
Em qualquer tempo onde os homens sonhem
. Na vida.

(Menotti Del Pichia, escritor brasileiro)

A vida é um carnaval. E o palco dela neste feriado são os lugares coletivos, onde, como os pingüins, os seres humanos fazem anualmente a grande marcha para o amor. Nem todos, claro, porque há sempre os mal-humorados, que se perdem pelo caminho, pois só vivem de dogmas e princípios.

Deixe a vida levá-lo, caro leitor. "Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu". Viemos mesmo do macaco, Adão e Eva tinham umbigo!

As fantasias dizem muito no carnaval, elas mostram as pérolas. Embora Colombina, Pierrô e Arlequim estejam mais vivos na festa nordestina, com confetes e serpentinas, eles continuam agindo subliminarmente em qualquer folia, em que a alegria seja o sentimento predominante. Na vida!

Arlequim é o mais popular dos personagens da Commedia dell‘Arte, gênero da Renascença italiana, que costumava dividir suas personagens em patrões e criados. Capitão, Pantaleão e doutor eram as figuras mais importantes do grupo dos patrões. Arlequim, Polichinelo e Colombina eram serviçais. O amor entre os pobres sempre foi mais carnal.

O Pierrot é um personagem derivado na Commedia dell‘Arte, que era uma espécie de circo. Os atores inventavam seu próprio texto, improvisação geral.

O triângulo amoroso continua, se manifesta em nossos carnavais de nosso dia-a-dia, freqüenta as páginas policiais. Não será a tecnologia de ponta a destruidora de nossos sentimentos e imperfeições, continuamos os mesmos, graças a Deus! O homem da caverna ainda mora em cada um. Ser máquina é esconder as emoções.

Pierrô ama candidamente Colombina, não precisa de camisinha e nem de lubrificante neste carnaval, até acha que o prefeito exagerou na distribuição, por isso faz discurso moralista. Arlequim é libidinoso, alegre e sedutor, quer todas as ofertas, até os vales-motel (se houver), estocando-os até chegar o próximo carnaval.

A disputa entre Pierrot e Arlequim pelo amor de Colombina aparece no poema dramático As Máscaras (1937), do escritor modernista Menotti Del Picchia. Nele, o amor é desejo e sonho na rivalidade pela mulher amada. As cenas podem acontecer em qualquer terra em que os homens amem. Em qualquer tempo onde os homens sonhem. Na vida.

Arlequim é terra, o macho. Pierrot é mais sonhador, o poeta. Colombina, com seu dom de iludir, queria mesmo dois em um.

Neste período em que até rei temos, as máscaras mais revelam do que escondem. Solte a franga, meu bem!

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo texto, meu bem. Bom carnaval!
Beijo