AGENDA CULTURAL

1.4.07

Olhe-se no espelho, veja a AEA


Hélio Consolaro

Caro leitor, o Fernando Lemos, editor de Esportes desta Folha me deu a tarefa de escrever uma crônica sobre a AEA. Que faço eu com um corpo insepulto, sendo velado por alguns, chorado por muitos e cuja morte não é aceita por outros. Como cronista, devo focalizar o lado inusitado do problema.

Como falar mal de um morto que já foi orgulho da cidade, mas hoje sucumbiu à beira da calçada em decadência total? Como se fosse um bêbado conhecido, a Geni, cantada por Chico Buarque de Holanda, em cujo velório há meia dúzia de pessoas...

Não vou aderir àqueles que malham o Judas porque respeito a história de Judas Iscariote, pois soube cumprir seu papel de traidor, de sujeito vil, pois toda a sociedade precisa dele, mas que o abomina, execrando-o, trancafiando-o em penitenciárias. Mas o que é mesmo um traidor?

Fui um cronista que sempre critiquei os métodos utilizados pelos dirigentes da AEA, desde quando era vereador na década de 80, quando o time era respeitado. Houve muita gente que tirou proveito da AEA, quando ela era uma prostituta bonita.

Eu, caro leitor, não jogarei a última pazada de terra na cova sobre o caixão, nem escreverei que ela já foi tarde. Nem serei o último a dar os pêsames, quero dizer que valeu a pena, desde que a alma não seja tão pequena, como cantou outro Fernando, o Pessoa.

Gostaria de que o araçatubense não visse o insucesso da AEA como culpa dos outros, porque ela está em nós, ela precisa ser velada como nosso parente.

E sei que haverá meia dúzia que chorará a sua morte convulsivamente em torno do caixão, que não foram ratos de porão, que mão abandonam os amigos quando estes estão em piores situações. São aqueles que nunca desejaram a sua morte, pelo contrário, rezaram por sua cura.

Nós, araçatubenses, precisamos encarar a moribunda AEA como se estivéssemos olhando no espelho, porque eu estou na AEA e ela está em mim. Nada acontece por acaso, tudo tem ligação, por isso considero o estado do time de futebol que leva o nome da cidade como uma faceta do que somos.

A AEA não envergonha Araçatuba, ela é Araçatuba, ela é o nosso retrato em branco e preto. O time representa a nossa falta de identidade como povo, Araçatuba é uma cidade que não consegue terminar ou resolver um problema, como o Hospital Modelo. Se a AEA fracassou, nós somos o fracasso.

Quero cumprimentar aqueles que ficaram para carregar o esquife até a cova, como se fosse uma denúncia contra os que se acovardaram. Sei que ficarão na história como os coveiros da AEA, mas foram os únicos que não tiveram medo de cuidar da leprosa.

Desejo que todos que passaram por sua história sejam glorificados; os honestos, claro.

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