AGENDA CULTURAL

25.3.07

Boteco vazio


Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte estava esquisito na sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja. Nem o Faca-Amolada, dono do bar apareceu. Havia apenas alguns barrigudinhos, meio desanimados.
Dona Assunta saiu da cozinha e foi avisando:
- Faca Amolada está com dengue!
Aí os avisos se repetiram:
- Cadê o Burguês?
- Dengue!
- Cadê o Magrão?
- Dengue!
- Cadê Dona Moranga?
- Dengue!
Banguelo, então, questionou:
- Eu acho que o vírus da dengue está na bebida. Impossível!
Bicho Grilo, mais sensato, disse para o Gordo:
- Vamos fazer uma blitz no quintal do boteco?
E foram.
Nisso, chegou o que gostava de fazer humor cantando: Mário Eugênio. Admirou-se pelo desolamento do Bate Forte, mas recebeu as explicações necessárias. Assim mesmo, animou o ambiente com o Hino Nacional da Skol:
Ouviram num boteco um berro mágicoDe um bêbado, um pedido refrescanteA Skol da liberdade em raios fúlgidosBrilhou na mão do dono nesse instanteSe o Senhor, tiver vontadeVem beber com a gente até ficar de porreCopo Cheio, e liberdadeAprecie este líquido à vontadeO Skol amada, idolatrada,Salve, SalveBebendo todo dia desse líquidoTem vezes que parece, a terra desceMeu Deus do céu, só penso nesse líquidoNão existe nada mais que me interesseGigantes depois de três, que belezaChorão depois da décima e tristezaNo dia seguinte dor de cabeçaSkol douradaEntre outras mil, és tu SkolCerveja amada.Dos filhos deste boteco és mãe, gentilA Skol do Brasil!
Ao chegar, o Dr. Duas Caras parou em posição de sentido, relembrando os velhos tempos em que serviu no Exército, mas se enganou, achou que Mário estava mesmo cantando o Hino Nacional do Brasil, quando percebeu, ficou de cara azeda e foi falando:
- Isso é uma blasfêmia ao símbolo maior da pátria!
- Blasfêmia – disse Subversivo – é a mordomia dos políticos!
Quando o bate-boca ia esquentar, apareceram Bicho Grilo e Gordo com a péssima notícia:
- Gente, lá no quintal, há muitas garrafas cheias d’água com larvas do mosquito da dengue, por isso é que os barrigudinhos estão todos dengosos!
Miltão, esquentado, foi tirar satisfações com a Dona Assunta, mas, apaziguador, Bicho Grilo propôs uma tarefa coletiva para aquele momento:
- Vamos lá virar aquelas garrafas, por todas de boca pra baixo?
E assim fizeram. Perceberam o abandono daquele quintal. Muita sujeira acumulada. Fizeram Dona Assunta prometer que aquilo ia ficar um brinco de tão limpo.
Dona Assunta, para comemorar esse momento de união e conscientização gritou:
- Rodada por conta da casa!
E os poucos barrigudinhos do Bate Forte, sem dengue, deram vivas!

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