AGENDA CULTURAL

19.4.07

Um homem de cabelo nas ventas


Monteiro Lobato faria 125 anos na quarta-feira, 18, mas como quase ninguém vive tanto, ele seria de qualquer forma “gás inteligente” (assim ele definia a morte) neste século 21.

Sujeito agitado. Gostava tanto do avô que mudou de nome para poder usar a bengala do velho. Naquela época, os bacanas usavam tal adereço. De José Renato passou a ser José Bento, já que as iniciais gravadas na bengala eram JBML. Ele escreveu para adultos, para crianças e era um político no bom sentido.

Ele é bem conhecido como escritor de livros infantis. Como tive uma infância pobre, fui saber da existência de Monteiro Lobato no curso de magistério (o antigo Normal). Nem mesmo as minhas professoras do grupo escolar conheciam o cara, porque nunca falaram dele pra mim.

Monteiro Lobato é tão importante para a literatura brasileira que o dia de seu nascimento ficou sendo Dia Nacional do Livro Infantil. Então, no dia 18/4, todo esse povo que vive para/da criança estavam em festa, comemorando, se vestindo de Emília, cantando músicas do Sítio do Pica-pau Amarelo.

Lobato era um sujeito ranzinza, encrenqueiro. Era gente de opinião, brigou com a ortografia, com a pontuação, enfim, com a gramática e grafou “picapau” junto, sem hífen, no título do seu livro. Como foi um gênio e já morreu, perdoamos tais teimosias. Afinal, já cantaram por aí que escritor bom, só depois de morto.

Você, caro leitor, está acompanhando a briga de terra, MST, reforma agrária. Essa luta é velha, e ela está na história de Monteiro Lobato. Ele herdou do avô em Taubaté-SP, onde nasceu, duas fazendas. Não tinha jeito pra coisa, perdeu-as.

Como temos a mania de colocar a culpa de nosso insucesso em alguém, então, ele jogou-o em cima do caipira, criando a figura do Jeca Tatu, indolente, preguiçoso, sem vontade de vencer. Do mesmo jeito que ainda muita gente vê o homem do campo que não tem propriedade.

Com o passar do tempo, vendo o erro que cometeu, querendo corrigir a injustiça, Monteiro Lobato criou a personagem Zé Brasil, trabalhador rural valente, mas sempre explorado pelo latifúndio. Como intelectual engajado nas lutas políticas, ele lutou muito para a fundação da Petrobrás, com a campanha “O petróleo é nosso”. Se vivesse hoje, Monteiro Lobato ia morrer de raiva com a falta de nacionalismo de nossas autoridades e de nosso povo.

Então, caro leitor. Monteiro Lobato era um sujeito de cabelo nas ventas (que expressão mais antiga!), ou seja, decidido, com posições claras e por isso arrumou muita encrenca. Era um autêntico cidadão. E viva Monteiro Lobato!

Um comentário:

Samyla Silvestre disse...

Oi Professor, eu recebi o seu comentário...
Obrigada, o seu blog também é fascinante! Parabéns!
Um abraço! ♥

Samyla Silvestre.