AGENDA CULTURAL

24.5.07

Banco de reservas


Hélio Consolaro

Futebol não se aprende na escola
No país do futebol, o sol nasce para todos
Mas só brilha para poucos (...)
Gabriel, o Pensador.

Gosto de ver jogos de futebol pela tevê, principalmente quando o Palmeiras não joga, pois fico menos tenso. Como todos os brasileiros, não separo futebol de televisão, são uma coisa só.


Mas o futebol não era essa festa do povão, ele chegou ao Brasil pelas mãos da elite. Em 1921, a Copa América foi disputada em Buenos Aires. O presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, ordenou que não enviasse nenhum jogador de pele morena, por razões de prestígios pátrios.

Já na década de 50, em meu tempo de criança, no bairro Santana, jogar futebol era ocupação da malandragem.

- Gente de bem, não fica correndo atrás de uma bola! – dizia meu pai.

Hoje, até os filhos da classe média sonham em ser um astro do futebol.

O futebol brasileiro traz em seu bojo um pouco da História do Brasil. Já fomos um povo mais preconceituoso. Melhoramos muito, mas ainda há um grupo enrustido, rancoroso, meio nazista.
O mercado justifica a existência de pobres pela incompetência. O pobre é um cara que não deu certo. O sistema oferece as oportunidades, vence o melhor.


Isso se repete no futebol, porque alguns conseguem, ganham holofotes e milhões, enquanto a maioria fica nos timecos da vida, se submetendo a salários ínfimos, com risco de não recebê-los.

Na verdade, conhecemos muito pouco de futebol, que virou um mundo dos negócios. Temos o costume de repetir o que dizem os comentaristas e locutores esportivos, como papagaios no boteco da esquina. Não fazemos idéia do tamanho da canalhice do meio, inclusive no amador.

Futebol é televisão e meia dúzia de cerveja. E saímos por aí, balançando a pança, dizendo que somos esportistas. Apesar das distorções, na sua essência é um esporte maravilhoso.

Já fizeram muita poesia sobre futebol na época de Pelé e Garrincha, porque imita a vida. Ele é coletivo, mas comporta o talento individual que precisa servir e se servir do coletivo, com seus pés de bailarino. A pessoa precisa ter iniciativa, mas também saber obedecer.

O banco de reserva, por exemplo, é uma escola. Sentar-se nele é estar na ante-sala da glória, mas também é um sinal de humildade, expor-se como um jovem pretendente ou um coroa decadente. É ficar, como o vice ou o estepe do carro, esperando o outro pipocar.

Falta de humildade é quando o jogador, ao ser substituído, sai cantando pneu, sem aceitar o fracasso, mesmo que seja momentâneo.

Ficar no banco de reserva é esperar a sua vez, sem revolta, como parte à espera para colaborar com o todo.

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