AGENDA CULTURAL

1.6.07

Mordendo o próprio nariz



Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte estava repleto de barrigudinhos na sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja, mas devido ao frio Faca Amolada e Caneta Louca atendiam mais a pedidos de conhaque e vinho:

- Uma dose de conhaque Presidente, aquele do Lula!

- Uma garrafa de vinho Chapinha!

- Uma tigela de caldo de mocotó!

Seu Sugiro, então, gritava lá da calçada:

- Sugiro espetinhos de filé miau! Bom, né!

E os pedidos vinham aos gritos, para alegria do japonês churrasqueiro. Amelinha ficava na caixa, mais recebia do que marcava.

E o primeiro gole era mesmo do Santo Onofre, cuja imagem ficava no nicho, lá no alto, observando e sentindo o cheiro de bodum que subia. E Dona Assunta se irritava com aquele ladrilho molhado. E passa pano daqui, e dali.

A conversa girava sobre futebol, política, Operação Navalha:

- Você viu, Subversivo, dizia Banguelo, a mesadinha da amante do senador Renan Calheiros... Se ele podia dar aquela quantia mensalmente, quanto o homem não ganha?

- E nós vivendo de farelo, apertando o salário no fim de mês – observou Gordo.

De repente, Seu Titako Nakana, aparentado de Seu Sugiro, quis mostrar suas habilidades de morder o próprio nariz. Ninguém acreditou. Como? Magrão logo foi dizendo:

- Duvido! Já vi gente morder o próprio bilau, mas o nariz, não!

Seu Titako mostrou fotos que tirou lá no Japão, como decasségui, onde aprendeu essa arte.

- Foto pode ser montagem. Quero ver aqui, no chão do boteco! – dizia Burguês.

De repente, o japonês começou a se contorcer. Silêncio geral. Consegue, não consegue. E veja, caro leitor como ele ficou no boteco Bate Forte (as fotos foram tiradas no Japão), pois nenhum barrigudinho tinha uma digital para registrar o momento.

Foi viva geral. Uau! Morder o próprio nariz. Alguns queriam saber como fazia isso, aquilo, mas ele enrolou, guardou segredo de Estado.
Para comemorar tal arte, Faca Amolada gritou lá do balcão:

- Rodada por conta da casa!

E todos gargalharam, pois sabiam que no Bate Forte nada existia de graça, do couro saía a correia. E Magrão ficou de olho na marcação de Caneta Louca nas comandas.

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