AGENDA CULTURAL

23.9.07

Fala com sua mãe assim, oh palhaço!

Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte transpirava alegria na sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, atendiam aos pedidos que vinham aos gritos:

- Uma cerveja bem gelada e quadrada!

- Uma porção de calabresa!

Seu Sugiro gritou lá da calçada:

- Tem também espetinhos de filé miau! Bom, né!

Lá estava a dupla caipira Marmita & Passa-Fome, animando os barrigudinhos, cantando para alegrar ainda mais o ambiente.

E o primeiro gole era para o Santo Onofre. Os barrigudinhos olhavam para imagem e molhavam o piso, para desespero de Dona Assunta, que vivia com rodo e pano à mão, enxugando o chão. Amelinha na caixa, mais marcava do que recebia.

Marmita & Passa fome cantavam como sabiá a música Espinheira, de Duduca e Dalvan:

- Eta espinheira danada / Que pobre atravessa pra sobreviver / Vive com a carga nas costas / E as dores que sente não pode dizer.

Miltão ficou todo animado com a música, que tinha fundo político. Acrescentou:

- E se a tal espinheira for barbuda...

Burguês acrescentou:

- Espinheira é o DEM e o PSDB nas costa do Lula, um pobre que virou presidente!

- DEM é abreviatura de demônio – gritou Subversivo.

E a dupla continuava a cantarolar:

- Mas a esperança é miúda / E a coisa não muda não tem solução: / Nem tudo que a gente estuda, / Se agarra e se gruda, rebenta no chão.

Nisso, Miltão catou o Subversivo pelos gorgomilos, deu dois safanões, jogou o cara sobre duas mesas e gritou:

- Fale assim com mãe assim, oh palhaço!

E a dupla estava tão entusiasmada, como se estivesse cantando um hino que nem percebeu uma cadeira que vou e caiu bem perto do palco improvisado. E vieram os próximos versos:

- O mundo não acaba aqui / O mundo ainda está de pé /
Enquanto deus me der a vida / Levarei comigo esperança e fé!

Dr. Duas Caras e mais a turma do deixa-disso tentavam segurar Miltão. E Marmita & Passa-Fome, ao terminar a música, gritou:

- Viva o Bolsa Família, alegria da pobreza!

Burguês queria dar na cara do Miltão, que babava de raiva e avançou sobre o palco.

Faca Amolada deu um grito tão forte, que todos pararam para ouvi-lo:

- Desse jeito vou à falência!

Parou. Deixou o sangue se acalmar e falou pausadamente:

- Rodada por conta da casa!

E Marmita & Passa-Fome puxou um pagode de Tio Carreiro para animar o ambiente. Afinal, não vale a pena brigar por causa de política.

Observação: qualquer semelhança com alguma câmara de vereadores é mera coincidência.

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