Hélio Consolaro
O boteco Bate Forte transpirava alegria na sexta-feira, Dia Nacional da Cerveja. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, atendiam aos pedidos que vinham aos gritos:
- Uma cerveja bem gelada e quadrada!
- Uma porção de calabresa!
Seu Sugiro gritou lá da calçada:
- Tem também espetinhos de filé miau! Bom, né!
Lá estava a dupla caipira Marmita & Passa-Fome, animando os barrigudinhos, cantando para alegrar ainda mais o ambiente.
E o primeiro gole era para o Santo Onofre. Os barrigudinhos olhavam para imagem e molhavam o piso, para desespero de Dona Assunta, que vivia com rodo e pano à mão, enxugando o chão. Amelinha na caixa, mais marcava do que recebia.
Marmita & Passa fome cantavam como sabiá a música Espinheira, de Duduca e Dalvan:
- Eta espinheira danada / Que pobre atravessa pra sobreviver / Vive com a carga nas costas / E as dores que sente não pode dizer.
Miltão ficou todo animado com a música, que tinha fundo político. Acrescentou:
- E se a tal espinheira for barbuda...
Burguês acrescentou:
- Espinheira é o DEM e o PSDB nas costa do Lula, um pobre que virou presidente!
- DEM é abreviatura de demônio – gritou Subversivo.
E a dupla continuava a cantarolar:
- Mas a esperança é miúda / E a coisa não muda não tem solução: / Nem tudo que a gente estuda, / Se agarra e se gruda, rebenta no chão.
Nisso, Miltão catou o Subversivo pelos gorgomilos, deu dois safanões, jogou o cara sobre duas mesas e gritou:
- Fale assim com mãe assim, oh palhaço!
E a dupla estava tão entusiasmada, como se estivesse cantando um hino que nem percebeu uma cadeira que vou e caiu bem perto do palco improvisado. E vieram os próximos versos:
- O mundo não acaba aqui / O mundo ainda está de pé /
Enquanto deus me der a vida / Levarei comigo esperança e fé!
Dr. Duas Caras e mais a turma do deixa-disso tentavam segurar Miltão. E Marmita & Passa-Fome, ao terminar a música, gritou:
- Viva o Bolsa Família, alegria da pobreza!
Burguês queria dar na cara do Miltão, que babava de raiva e avançou sobre o palco.
Faca Amolada deu um grito tão forte, que todos pararam para ouvi-lo:
- Desse jeito vou à falência!
Parou. Deixou o sangue se acalmar e falou pausadamente:
- Rodada por conta da casa!
E Marmita & Passa-Fome puxou um pagode de Tio Carreiro para animar o ambiente. Afinal, não vale a pena brigar por causa de política.
Observação: qualquer semelhança com alguma câmara de vereadores é mera coincidência.
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