AGENDA CULTURAL

3.2.08

Baby, a vida cobra

Eleuza de Morais/ eleuza9@pop.com.br/ separação | tinta acrílica sobre tela

Hélio Consolaro

Uma pessoa, anonimamente, deixou um comentário num texto de meu blog, a crônica “Feliz prisão em 2008”:

Belo texto. Parabéns. Só você mesmo para escrever isso (o que a gente ou pelo menos eu realmente penso). Acabei de sair de uma prisão de segurança máxima (o casamento), e nunca me senti tão presa, tão acorrentada às minhas lembranças (boas ou não), tão sem rumo,tão só. Antes aquela prisão, pois me dava mais liberdade que agora. Hoje me sinto como um passarinho que foi preso a vida toda e agora livre não sabe mais voar.

Baby, a vida cobra caro de quem perde o seu compasso. Quem deixa de fazer a evolução na hora certa é atropelado. E nós vivemos sempre a incompletude, nunca estamos felizes com o que conseguimos e temos.

O marido das outras sempre é mais perfeito. As mulheres que passam no calçadão são mais gostosas. Como disse Lacan: o desejo é mais gostoso do que a sua realização.

O rejeitado vai embora, aquele que parecia ser a pedra no caminho resolve sair de nosso caminho. Inicialmente parece tão bom, mas depois aquele espaço vazio começa a gritar. Até apanhar dele todos os dias faz sentido, aquelas bofetadas verbais fazem falta. A convivência foi tão longa, que ele era o seu espelho. Ele não era tão ruim assim. Uma espécie de ontologia negativa.

Como somos saudosistas, não conseguimos ser felizes aqui agora, tudo lembra o passado, a sua ausência ganha dimensão imensurável. Um objeto, um cartão, os móveis, as fotografias, o fio de cabelo no paletó (como canta a dupla sertaneja), tudo lembra quem nós desprezávamos.

Então, baby, você falou tanto dele, era uma porqueira qualquer, mas como era bom ter a presença dele, como um gato estirado no sofá. Não conversavam, se olhavam com raiva, mas agora nem isso tem. Como aquela mãe que gritava o dia inteiro com o filho, quando parou de fazer isso, descobriu o seu papel ridículo, o garoto sentiu falta: “Mãe, a senhora não vai gritar mais comigo?”

Acostume-se com a idéia, baby, a vida está lhe mostrando a outra face. Você participa, agora, do mundo das pessoas separadas. Você nem desconfiava que as noites de sua cidade eram tão movimentadas. Inicialmente, parece que todos os olhares são de condenação, mas muito são de inveja, porque pensam como você pensava.

Solte-se. A pior gaiola fica dentro da gente, aquela trava posta pela mãe, o complexo de culpa, o sermão do presbítero, a lição de moral do professor. Quase nunca somos nós mesmos, os outros nos construíram.

Escrever é fácil, arrebentar a gaiola é difícil, mas você encontrará a marreta, baby. Não foi a primeira, nem será a última.

3 comentários:

Marcos Gratao disse...

Oi, seu Hélio!

Sei que estou meio atrasado (afinal, já estamos em fevereiro)mas queria te desejar um ano muito bom! tenho ouvido o Fale Cabeção, na radio, e me mato de rir toda hora que vocçe chama o pessoal de cabeção!!! hahahaha!

Ah, eu posso ter demorado 11 anos pra me casar (lembra daquela cronica, né!!!) mas fui rapidinho pra encomendar um herdeiro. A Mi já está de 4 meses!!!! heheheh!!!

Abração, seu Hélio! t+

Anônimo disse...

[b]Olá Hélio!
Com toda certeza, quebrar correntes na verdade inicialmente é um alívio, com o passar dos "dias" nos desespera, é como se vc fosse estrangeiro, um alienígena, pois todos te olham de um modo diferente, muitas das vezes isso vem de dentro de nós mesmos, e confiamos tanto em nosso
"argumento" que passamos a ser inimigos de todos...e acabamos também de concordar que somos mesmos uma aberração, talvez um fracasso, mesmo que mental.
Não separamos do companheiro, mas de nós mesmos, aquela garra antes demonstrada para alguém, fica sufocada, pois pra que gritaríamos com tanta veemência...rs, é somente ele mesmo é capaz de aguentar...seria um desabafo sem culpa de arrasar o ouvido alheio...
Isso também perde um pouco do impulso do caminhar, de querer conquistar; é perdido aquela segurança.Essa prisão nos faz olhar para fora e ter medo de novamente fracassar, e claro não deixamos nada e nem ninguém aproximar...o medo nos faz regredir mais, e ainda continuamos em uma prisão, posso chamar que é uma fase pior, um castigo, é a fase "solitária" que continua sendo a corrente em nossos pés.

Bjs
Perdoe os erros de português...

Simone Leite Gava

Anônimo disse...

Legal o texto, obrigada pelos conselhos, mas antes de eu achar a marreta para arrebentar a gaiola, ele voltou. Disse que não conseguiu viver sem mim, e eu...não devia, mas aceitei-o de volta. Sei lá o que aconteceu comigo, se é amor ou com a longa convivência a gente não consegue mais se soltar dessa prisão.
Beijos.