AGENDA CULTURAL

2.2.08

Beber, cair e levantar


Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte, nesta sexta-feira, estava superlotado, barrigudinhos por todos os lados, comemorando o Dia Nacional da Cerveja. Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, corriam por todos os lados, atendendo aos pedidos que vinham aos gritos:

- Uma cerva bem gelada!

- Uma porção de saximi!

Toldos olharam para a churrasqueira do Seu Sugiro, mas era o Burguês que havia preparado o peixe cru, com gengibre e xoio.

- Ih... Saximi paraguaio, né! Bom mesmo é espetinho de filé miau! Gritou

Seu Sugiro lá da calçada.

- Japonês churrasqueiro também faz espetinhos paraguaios, não? – disse Magrão.

- Garantido, né! Espetinho de filé miau é bom, né! – disse Seu Sugiro.

Dona Assunta administrava a cozinha, Amelinha mais recebia do que anotava no caixa. Estava funcionando uma microempresa brasileira.

De repente, lá na esquina apontava Guiné. Já estava pra lá de Bagdá. Caiu, estatelou-se no asfalto. Levantou-se com os braços esfolados. Quando ele adentrou o boteco, Marmia & Passa Fome entoou um forró:

Vamos embora /Pra um bar / Beber, cair e levantar Beber, cair e levantar / Beber, cair e levantar/ Beber, cair e levantar / Cabra safado / Tá na zueira / Só gosta mesmo é de mulher doideira / Mulher direita ele não quer / Fica travado e até briga com a mulher / Eu já quis me juntar com meu amor/ Mas a cachaça me pegou / E a farra agora é meu lugar / Eu já quis me juntar com meu amor / Mas a cachaça me pegou / E a farra agora é meu lugar / Mas se você quiser me acompanhar / Eu vou te convidar pra ir pra ir farrear

- Bebo e pago! Se caio, me levanto! Que implicância! – disse Guiné, se jogando sobre uma cadeira.

Nisso chegou o Dr. Duas Caras, manguaçado, desfeito das formalidades. Subiu numa mesa. A dupla parou de cantar. E ele fez o discurso:

- A ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, está gastadeira, hein? A turma do estimado professor Alvino Barbosa precisa tomar uma providência! Desse jeito, ela está sujando a raça!

Nem vou reproduzir o que os barrigudinhos falaram, por questões éticas. Guiné se equilibrou nos dois pés, meio redondos e protestou:

- Se a ministra fosse branca, ninguém iria reparar na cor dela, mas como é negra, a pichação vem em cima da raça!

Buiú deu um pescoção no Dr. Duas Caras. E começou a guerra das cores do Corinthians. Até que o Faca Amolada gritou:

- Só existe a raça humana, viu! E rodada por conta da casa.

E assim, com olhos nos copos cheios, predominou a confraternização racial no Bate Forte. E a música recomeçou: beber, cair e levantar...

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