AGENDA CULTURAL

16.3.08

Eta bicho ladrão!


Hélio Consolaro

O boteco Bate Forte estava estufado de barrigudinhos. O verão fazia que todos tomassem cervejas geladas à vontade, lambendo os beiços. O primeiro gole era sempre para o santo Onofre, protetor dos bebuns.

Faca Amolada e Caneta Louca, esbaforidos, atendiam aos pedidos que vinham aos gritos:

- Uma cerva bem gelada, por favor!

- Uma porção de tremoço!

Seu Sugiro gritou lá da calçada:

- Garantido! Sugiro espetinhos de filé miau, bom, hein! Para alegria do japonês churrasqueiro, surgiram muitos pedidos. Dona Assunta administrava a cozinha, Amelinha ficava no caixa. Ainda havia gente pagando a conta do mês.

Faca Amolada comunicou:

- Tente arrumar cartão de crédito, pessoal. Fiado vai ser só no cartão.

Subversivo já estrilou:

- Não tenho cartão, nem vou ter. Quero ver se o bonitão que não vai me vender fiado! Nem que for só pra mim.

- Bicho atrasado! – disse Faca Amolada.

- Atualize-se, cara! – repreendeu Burguês.

Magrão deu seu parecer sobre o campeonato paulista:

- Alegria de pobre dura pouco. Resiste, esperneia, mas não fica lá em cima. Veja o que está acontecendo com os times do interior, já estão descendo a ladeira.

- E o Santos ainda vai ocupar o lugar do Guaratinguetá! – disse Dr. Duas Caras.

E continuou o advogado:

- Os times do interior só fazem cenário para os grandes. Levam os timões para suas cidades, e os moradores torcem contra a equipe local. Às vezes, sobra alguma coisinha.

A dupla Fome Zero, composta de Marmita & Passa Fome, entoou galhardamente o hino do Corinthians. Foi uma farra. Palmeirenses e são-paulinos urraram de raiva.

- Salve o Corinthians, campeão dos campeões...

Alguém gritou:

- Rebaixado no Brasileirão!

Subversivo, bêbado de tanto tomar água tônica com limão, chutou mesas, deu asas a cadeiras. O tempo fechou.

- Vocês precisam respeitar meu time do coração! Cambada de fdp!

Burguês pegou o Sub e deu nele muitos sopapos. A turma do deixa disso entrou em ação. O pau quebrou.

Faca Amolada, desesperado, gritava:

- Rodada por conta da casa! Rodada por conta da casa!

E nada de parar a pancadaria! Até que apagou todas as luzes. Assim, mais em silêncio, a turma ouviu o grito de paz:

- Rodada por conta da casa, caralho!

Assim cessou o quebra-quebra e todos voltaram para seus copos, com olhos fixos no líquido precioso. Enquanto Caneta Louca fixava seu olhar nas comandas, marcando mais duas cervejas para cada barrigudinho. Eta bicho ladrão!

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